Nossas Contradições
Nossas Contradições
Nós homens somos dotados de atributos que nos diferenciam dos animais. Somos conscientes de nós mesmos como uma entidade independente: lembramos do passado; visualizamos o futuro e indicamos ações e objetos por meio de símbolos. Somos dotados de consciência, razão e imaginação.
Acreditamos que num passado remoto, a partir do momento em que esses atributos foram ativados na raça humana, perdemos a vida em harmonia com a Natureza, tal como ocorre na vida animal.
Essa desarmonia e a responsabilidade de cuidarmos de nossa existência geraram e continuam gerando necessidades muito maiores que as necessidades dos animais.
Mesmo que a fome, a sede, e nossos desejos sexuais estejam completamente satisfeitos, continuamos insatisfeitos.
A razão de tudo isso é que carregamos no nosso interior uma Semente Divina e dela somos os responsáveis pelo seu cultivo até que se realize a Árvore nela potencialmente contida.
Precisamos preparar o solo do nosso interior, tratando com todos os cuidados o nosso corpo: boa alimentação, sem exageros e sem vícios. Precisamos levar água de boa qualidade e na quantidade justa, selecionando e orientando nossas emoções. É indispensável que se faça a luz em nosso interior, por meio de pensamentos construtivos e positivos.
Assim, nossa permanente insatisfação é justificada pelo clamor dessa Semente por um solo preparado, por água e luz para que realize a árvore Nela potencialmente contida. Quando a Semente Divina de cada um de nós se transformar em árvore, teremos reconquistado a harmonia perdida e reencontrado a trilha de volta à Casa Paterna.
Nessa caminhada vamos percebendo nossas contradições e, é essa percepção que nos estimula a prosseguir.
São verdadeiros “estalos mentais”, que começam em nossa juventude e vão revelando a dualidade que existe em nós: capacidade de construir e capacidade de destruir; a verdade e a mentira; o ódio e o amor; a agressividade e a suavidade; a segurança e a liberdade a dor e o prazer; a capacidade de dominar ou de escravizar e a de desenvolver; o masculino e o feminino; enfim a vida e a morte.
Esses “estalos mentais”, quando ocorrem, marcam com muita intensidade esses momentos.
Quem, durante o seu processo de evolução, não teve a oportunidade de identificar essa dualidade dentro de si?
Quem, num dia qualquer, olhando-se no espelho, no caso de fêmea, não teve a oportunidade de achar-se um tanto masculina e, no caso de macho, um tanto feminino?
Quem, pelas mesas da vida, não teve oportunidade de defrontar-se com sua agressividade, ao perceber, sobre seu prato, as ossadas dos animais servidos?
Quem, em algum momento, não preferiu a ilusão à verdade?
“Mão Nossa de cada Dia” é a constatação dessa dualidade ao observarmos o nosso dia a dia. Entretanto, apesar de sermos um indivíduo, com nossas peculiaridades, carregamos dentro de nós todas as características da raça humana.
Mãos Nossas de Cada Dia
A mão que prepara o solo,
semeia a terra
e colhe o fruto,
faz a queimada.
A mão que escreve o conto,
o poema e a prosa,
redige e publica
a notícia mentirosa.
A mão que segura a régua,
a ferramenta e a caneta,
empunha as armas,
arriscando o planeta.
A mão que navega por um corpo,
fazendo amor ou ternura,
espanca no protesto
e sevicia na tortura.
A mão que se estende na chegada
e repinica na folia,
acena na partida
e rufa para a guerra.
Nossas mãos, nossa contradição:
o domínio ou a potência;
a omissão ou a ação;
a segurança ou a liberdade;
o ódio ou o amor;
a ilusão ou a verdade;
nas mãos nossas de cada dia,
a vida e a felicidade;
nas mãos nossas de cada dia,
a vida e a felicidade.