Amar pela Internet
Tenho um dileto amigo que, valendo-se da Internet, arranjou, segundo ele, muitas namoradas! Garante que tem um amor virtual em vários estados deste imenso Brasil; e até em algumas cidades da Europa, apesar de só falar português. Encontro-o sempre se vangloriando de ser um dos internautas mais queridos e disputados de sua paróquia que, por coincidência, também é a minha.
Para atender a todos os seus xodós, ele invade as madrugadas diante do seu computador; e, não raras vezes, chega a cochilar sobre o teclado do seu notebook, que ele chama de "meu impecável confidente".
Me disse outro dia, que toma um susto dos diabos toda vez que uma traiçoeira mini-janela se abre no seu Positivo, de 3GB, avisando-lhe que fulana acabou de entrar. E entra em pânico quando seus amores aparecem na sua telinha - 14.1 - quase ao mesmo tempo.
No início, ele ficava na dúvida sobre quem devia atender primeiro. O congestionamento que se formou foi tamanho que ele estabeleceu a idade da namorada virtual como critério para o atendimento prioritário. As mais novas, portanto, seriam atropeladas pelas mais velhas.
O problema voltava quando coincidia de as "meninas" terem a mesma idade. Ele contornou o problema adotando, desta vez, o respeitável critério da antiguidade, atendendo aquele amor que o procurara há mais tempo. E assim foi levando, satisfazendo a todas.
Creio que há milhares de internautas fazendo o mesmo que o meu amigo Diego, ou seja, namorando bravamente pela Internet.
Chego à Internet vindo dos bons tempos do namoro pelo telefone; fossem os apaixonados solteiros ou casados; pessoas que já se conheciam; ou que nunca houvessem olhado um pra cara do outro.
Aqui pra nós, uma jura de amor dita pelo telefone é muito mais saborosa, muito mais impactante do que fazê-lo através do MSN, do Skype ou de um alongado e-mail.
No telefone, a voz do amante e os suspiros da amada atravessam os tímpanos, chegando rápida e mansamente aos corações apaixonados...
Diria que numa coisa o computador levaria vantagem sobre o telefone: no computador, a troca de juras é feita sem testemunhas auditivas, preservando-se - não de forma absoluta e definitiva - a intimidade do casal comprometido .
Perigo de quebra dessa intimidade, sempre há: no telefone, pelos danados dos grampos; na Internet, pelos calhordas dos hackers, incansáveis no seu criminoso propósito de bisbilhotar os segredos dos internautas, apaixonados ou não.
Olha, não condeno os que namoram pela Internet. Não pense o leitor que, em assim me manifestando, estou advogando em causa própria. Entendo que toda manifestação de amor é válida, inclusive a manifestação pela Web.
Muita gente, com a ajuda do seu computador, passa a viver momentos de indescritível e oportuna felicidade depois descobrir, com um leve clique, a compensação diante de um amor frustrado ou caduco. Não. Não condeno, redigo, os internautas namoradores.
Está nas livrarias mais um livro de crônicas do Moacyr Scliar, com o seguinte título: Histórias que os jornais não contam.
Nesse livro, a crônica Estranhas afinidades trata do namoro pela Internet e as surpresas que esse tipo de encontro moderno pode de repente aprontar.
Limito-me - num descomunal esforço para ser sucinto - a trazer, neste final de página, o que o mestre
Scliar deixa dito na sua curiosa crônica, que não pode passar despercebida.
Parte o cronista de uma notícia veiculada num jornal da Bósnia-Herzegovina, com este anunciado: " Casal se divorcia após descobrir que flertava pela Internet."
O casal vivia, no seu dia-a-dia, mergulhado em permanentes confrontos e estrepitoso desajuste conjugal. Ou melhor dizendo, marido e mulher viviam como gato e cachorro sob o mesmo teto.
Na busca da felicidade, ele e ela "iniciaram contatos pela Internet, e, sem saber de suas identidades, trocaram mensagens e acabaram se apaixonando. Quando a relação se tornou séria, decidiram se encontrar, e então descobriram quem eram. O casal decidiu se separar".
Em síntese, em casa, ele era um sujeito ranheta e na Internet, um cara afetivo, "capaz de construir uma relação amorosa mesmo à distância, mesmo sem ver aquela a quem se dirigia". Rigorosamente a mesma coisa acontecia com ela. A separação tornou-se inevitável.
É o caso de se perguntar: será que, em última instância, o namoro pela Internet pode ser uma solução? Quem já provou dessa experiência que me diga.
Tenho um dileto amigo que, valendo-se da Internet, arranjou, segundo ele, muitas namoradas! Garante que tem um amor virtual em vários estados deste imenso Brasil; e até em algumas cidades da Europa, apesar de só falar português. Encontro-o sempre se vangloriando de ser um dos internautas mais queridos e disputados de sua paróquia que, por coincidência, também é a minha.
Para atender a todos os seus xodós, ele invade as madrugadas diante do seu computador; e, não raras vezes, chega a cochilar sobre o teclado do seu notebook, que ele chama de "meu impecável confidente".
Me disse outro dia, que toma um susto dos diabos toda vez que uma traiçoeira mini-janela se abre no seu Positivo, de 3GB, avisando-lhe que fulana acabou de entrar. E entra em pânico quando seus amores aparecem na sua telinha - 14.1 - quase ao mesmo tempo.
No início, ele ficava na dúvida sobre quem devia atender primeiro. O congestionamento que se formou foi tamanho que ele estabeleceu a idade da namorada virtual como critério para o atendimento prioritário. As mais novas, portanto, seriam atropeladas pelas mais velhas.
O problema voltava quando coincidia de as "meninas" terem a mesma idade. Ele contornou o problema adotando, desta vez, o respeitável critério da antiguidade, atendendo aquele amor que o procurara há mais tempo. E assim foi levando, satisfazendo a todas.
Creio que há milhares de internautas fazendo o mesmo que o meu amigo Diego, ou seja, namorando bravamente pela Internet.
Chego à Internet vindo dos bons tempos do namoro pelo telefone; fossem os apaixonados solteiros ou casados; pessoas que já se conheciam; ou que nunca houvessem olhado um pra cara do outro.
Aqui pra nós, uma jura de amor dita pelo telefone é muito mais saborosa, muito mais impactante do que fazê-lo através do MSN, do Skype ou de um alongado e-mail.
No telefone, a voz do amante e os suspiros da amada atravessam os tímpanos, chegando rápida e mansamente aos corações apaixonados...
Diria que numa coisa o computador levaria vantagem sobre o telefone: no computador, a troca de juras é feita sem testemunhas auditivas, preservando-se - não de forma absoluta e definitiva - a intimidade do casal comprometido .
Perigo de quebra dessa intimidade, sempre há: no telefone, pelos danados dos grampos; na Internet, pelos calhordas dos hackers, incansáveis no seu criminoso propósito de bisbilhotar os segredos dos internautas, apaixonados ou não.
Olha, não condeno os que namoram pela Internet. Não pense o leitor que, em assim me manifestando, estou advogando em causa própria. Entendo que toda manifestação de amor é válida, inclusive a manifestação pela Web.
Muita gente, com a ajuda do seu computador, passa a viver momentos de indescritível e oportuna felicidade depois descobrir, com um leve clique, a compensação diante de um amor frustrado ou caduco. Não. Não condeno, redigo, os internautas namoradores.
Está nas livrarias mais um livro de crônicas do Moacyr Scliar, com o seguinte título: Histórias que os jornais não contam.
Nesse livro, a crônica Estranhas afinidades trata do namoro pela Internet e as surpresas que esse tipo de encontro moderno pode de repente aprontar.
Limito-me - num descomunal esforço para ser sucinto - a trazer, neste final de página, o que o mestre
Scliar deixa dito na sua curiosa crônica, que não pode passar despercebida.
Parte o cronista de uma notícia veiculada num jornal da Bósnia-Herzegovina, com este anunciado: " Casal se divorcia após descobrir que flertava pela Internet."
O casal vivia, no seu dia-a-dia, mergulhado em permanentes confrontos e estrepitoso desajuste conjugal. Ou melhor dizendo, marido e mulher viviam como gato e cachorro sob o mesmo teto.
Na busca da felicidade, ele e ela "iniciaram contatos pela Internet, e, sem saber de suas identidades, trocaram mensagens e acabaram se apaixonando. Quando a relação se tornou séria, decidiram se encontrar, e então descobriram quem eram. O casal decidiu se separar".
Em síntese, em casa, ele era um sujeito ranheta e na Internet, um cara afetivo, "capaz de construir uma relação amorosa mesmo à distância, mesmo sem ver aquela a quem se dirigia". Rigorosamente a mesma coisa acontecia com ela. A separação tornou-se inevitável.
É o caso de se perguntar: será que, em última instância, o namoro pela Internet pode ser uma solução? Quem já provou dessa experiência que me diga.