Ficar por ficar...

Enquanto estava concluindo um determinado relatório do Programa PROINFANTIL, destinado a professores que atuam na área da Educação Infantil, encontrei em meu caderno de registro, um depoimento de um jovem de dezessete anos, que foi meu aluno no Ensino Médio. Resolvi fazer um breve intervalo pra me apropriar da referente leitura, titulada por “Ficar por ficar”.

Na época, estava trabalhando com eles um projeto sobre a Reprodução Humana, e falávamos sobre relacionamentos entre homem e mulher. Solicitei uma entrevista sobre o que significa:

“Ficar” e o que pode se resultar a partir deste termo usado pela maioria dos adolescentes nos dias atuais.
De todas as hipóteses levantadas, uma me chamou mais atenção:

“Ficar é dar uns beijos, uns arrochos, uns pegas... O problema é quando resulta numa transa inconseqüente. Vai que um dos dois está com AIDS e sem preservativo... Afinal, quando rola a atração, na hora a cabeça num pensa muito não, só quer saber de se satisfazer no momento. Às vezes, é só uma vez, e nenhum dos dois nunca mais se ver, se fala, e corre o risco até de nem lembrar do nome direito.Foi meu caso.”

Disse o jovem rapaz.


Impossível o professor ser impessoal numa hora dessas... Procurei saber mais da situação, mas apenas soube que  a menina que ficou com ele estava grávida, e que estava contaminada também, logicamente.Uma pena... Um ato impensado, por impulso do momento... Limitar vidas que estavam apenas começando.

Devido a tantos depoimentos de jovens que já escutei, penso que ficar por ficar, deve ser uma coisa sem sabor, sem nexo e até sem sentido, pois também penso que se há uma atração física que seja, mesmo que não haja relacionamento sério, deve haver algum tipo de sentimento, que naturalmente possa ser até mesmo amadurecido com a convivência. Muito embora, as paixões na maioria das vezes, sejam efêmeras, sem consistência de amor adulto, maduro.

O fato é que os jovens precisam entender que não ter compromisso, não pode significar, necessariamente, ficar, porque alguém poderá sair machucado. Os danos podem ser irreparáveis, a ponto de sacrificar vidas de inocentes, além de tirar o sossego dos pais e a harmonia familiar, sem falar na desestruturação emocional dos envolvidos.

Às vezes penso o quanto custa a falta de consciência, de maturidade emocional, prudência, equilíbrio na vida das pessoas, ao longo deste percurso em que venho acompanhando casos específicos (ou não), nesta caminhada, na dinâmica da vida.

Chego a conclusão que tudo passa.Vai virando história, memória, registros... Fragmentos; onde muitas vezes nem nos damos conta que o tempo vai passando e algumas coisas perdem o valor, outras se tornam significativas... Enfim, é como se não atentássemos que a vida é breve, que somos senhores de nossas histórias, nosso mundo, no que acreditamos, perseguimos, atraímos, sonhamos. Então vou mais além:

Que futuro deixaremos para as crianças, os adolescentes?Qual nosso papel na sociedade, no mundo que habitamos?O que filtramos de construtivo para nossas vidas, nossos filhos?Será que estamos fazendo valer a pena a nossa passagem por aqui?Bem, cada um deve saber de si. Nossos eus, muitas vezes, vagueiam por dentro de nós mesmos, se ancoram em pensamentos vagos, bruscos, e até alheios ao que realmente pensamos que sabemos, e só com a voz de nossa consciência, identificamos a direção, o olhar que nos orienta.

Não cabe julgar, nem ser indiferente aos problemas sociais, e sim, tomar uma postura ética cidadã, respeitando e procurando contribuir de alguma maneira pelo bem comum onde estamos inseridos. Não distantes de nós, mas a partir de dentro de cada um de nós.
 

Antonia Zilma
Enviado por Antonia Zilma em 02/08/2009
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