Marcha fúnebre
Marcha fúnebre
Não tenho medo de avião e gosto imensamente de viajar pelos ares, mas há certos aspectos que preocupam. Um exemplo foi minha viagem a Porto Alegre; o tempo não estava bom e ao ruído das turbinas do Boeing, se associavam os acordes da marcha fúnebre de Beethoven, que eu ouvira umas três vezes no dia anterior. Instintivamente, procurei tirá-la da cabeça, tarefa impossível. Beethoven concluiu sua sinfonia número três opus cinqüenta e cinco, a Heróica, seis anos após o início de sua surdez; não deixa de ser melancólico, não ter acesso à música clássica. Se Beethoven pode compor uma sinfonia tão maravilhosa, completamente surdo, parece-me, que o ovo de Colombo é aprender música. Vai acontecer como o Salieri, que no filme sobre a vida de Mozart lia as partituras do gênio, e chorava copiosamente. Por via das dúvidas, eu deveria aprender música. Voltando à Heróica, eu chamo à atenção para o segundo movimento, a marcha fúnebre, adagio assai, uma das mais belas e dramáticas músicas que já ouvi; beleza surpreendente. Se formos compará-la com a marcha fúnebre de Chopin, terceiro movimento da sonata número dois em si bemol menor, opus trinta e cinco, para piano e orquestra, chega a nos dar pena. Eu imagino como Chopin não deve ter chorado no ombro de Maria Wodzinska, julgando-se um compositor menor. Pelas informações que tenho, embora Chopin tenha terminado a sonata em 1839, a marcha fúnebre foi terminada em 1837 e encaixada dois anos depois na sonata. Beethoven concluiu a Heróica em 1804. É claro, que Chopin também foi grande compositor e merecedor da admiração de Florbela Espanca, que lhe dedicou o poema “chopin”, mas me permito algumas brincadeiras. Tenho minhas obsessões por compositores como Brahms, adoro Mozart, Vivaldi, Berlioz etc. É forçoso reconhecer, que Beethoven é o maior compositor da história da música. Ouve-se com deslumbramento um coral de Bach, mas a emoção do coral da nona sinfonia de Beethoven é de arrepiar!