Ave, Café Galo
Itamaury Teles (*)
Em pleno coração de Montes Claros pulsa um “Galo”, num “poleiro” de reduzidas dimensões, onde cidadãos, de variados níveis sociais, democraticamente se encontram e se confraternizam, em ambiente amistoso e cordial, para discutir os mais variados assuntos da atualidade, e para relembrar o passado e antigos companheiros que já partiram para o “andar de cima”. São jornalistas, escritores, poetas, vendedores de loteria, corretores de imóveis, arquitetos, engenheiros, médicos, políticos e quejandos...
Como no Café Pérola belo-horizontino ou na Boca Maldita curitibana, o Café Galo é passagem obrigatória de políticos e celebridades do meio artístico que circulam pela cidade e ali se deixam fotografar, para se “eternizarem” em suas paredes. Com efeito, podem ser vistas no local fotografias do presidente Lula e do vice José de Alencar, do governador Aécio Neves, dos ex-governadores Tancredo Neves, Itamar Franco, Aureliano Chaves, Francelino Pereira e Eduardo Azeredo, do ator global Jackson Antunes, dos comediantes Chico Anísio e Tiririca, e muitos outros. Paulo Maluf, quando candidato a presidência da República, ensaiou lá comparecer, mas manifestantes irados o fizeram demover da idéia, quando já descia do carro na porta do Café...
Dentre os frequentadores mais tradicionais, pontificam no Café Galo os escritores Haroldo Lívio, Petrônio Braz, Dário Cotrim, Ronaldo José de Almeida e Augusto José Vieira Neto – o Bala Doce; os jornalistas Jorge Silveira, Felipe Gabrich, Luís Carlos Peré Novaes, Theodomiro Paulino, Arthur Leite, José Maria Costa, Oswaldo Antunes e Élton Jackson; o administrador Marco Paulo Furtado, os arquitetos Geraldo David Alcântara e Luiz Cláudio Cascão; o músico e performer Tico Lopes, os bancários Nonato Versiani, Euler Lino Campos, Florival Cardoso, Denart Dávila e José Batista; o engenheiro Ítalo Teles, os aposentados Fernando Lívio, Márcio Milo, Dudu Guimarães, Ruy Pinto, Danilo Macêdo e, última e não menos importante, Zezinha da Loteria, uma das poucas representantes do sexo dito frágil a frequentar o espaço...
Neste ano, o famoso Café Galo montes-clarense completou 52 anos de existência, funcionando no mesmo lugar, na esquina das ruas Governador Valadares e Simeão Ribeiro, no denominado Quarteirão do Povo. Ganhou roupa nova, presente de empresas locais, que assumiram o ônus da sua reforma, a partir de apelo feito por Theodomiro Paulino, o mais influente colunista social da cidade e frequentador assíduo do “point”.
O Café Galo foi inaugurado em 1956, por Augusto Alves, que justificava o nome do estabelecimento com o humor próprio dos baianos de Urandi, dizendo que “se o galo sobrevive é porque come milho”, talvez numa alusão à impureza dos cafés de então, sempre “batizados” com o alimento do galináceo.
Mas há outras histórias para a origem do nome. Jadir Rodrigues, o atual proprietário há 23 anos, sucedendo ao “seu” Augusto, diz ser o nome uma referência a uma ave que acorda cedo, como o Café Galo, que abre as portas as 6 da manhã, para servir cafezinho a seus clientes. Todavia, a versão mais criativa para o nome escolhido é de autoria do antigo proprietário do imóvel, o pranteado historiador Hermes de Paula. Como reservara apenas 12 metros quadrados de sua antiga clínica médica para um ponto comercial, vaticinou dizendo que ali bem que poderia funcionar um café, mas, pela exigüidade de suas dimensões, as pessoas teriam que comer em pé e rapidamente, feito um galo – numa chistosa expressão com duplo sentido...
O assunto é controvertido e vem povoando, nos últimos dias, as conversas no lugar. Mas ali ninguém se preocupa em concluir nada, o que importa são as acaloradas discussões, onde todos falam e, na maioria das vezes, ninguém tem razão...