A pornografia estatutária

Antes de mais nada, vou relembrar a crônica 'A insensatez da discriminação', onde me esforcei em mostrar o quanto de imbecilidade humana existe na prática da discriminação, seja racial, religiosa, sexual, profissional, política etc., no momento em que impomos comportamentos estereotipados contra grupos sociais que, no julgamento da maioria local, devam ser considerados formalmente inferiores, por apresentarem algum “defeito genético”, quando comparados com a tradição da classe dominante. Temos um grande exemplo, aqui mesmo no Brasil, onde o homem negro é discriminado, simplesmente pela diferença da cor da pele, que, para muitos, é sinal de inferioridade intelectual e social, só porque eles são descendentes dos africanos que vieram ajudar a colonizar este país, com a sua mão-de-obra em nível de escravidão covarde e desumana, sempre na condição de “mercadoria” de compra e venda, igual à de gado de corte! _Ora, me parece ser grande o número de ignorantes quanto ao fato de que muitos desses infelizes pertenciam a castas nobres em seus territórios, sendo arrancados brutalmente dos seios familiares pela força bruta, sem opções de defesa.

É lógico que a burrice concentrada do homem branco não permitiu a seus irmãos negros, desde há muito tempo, a liberdade de evolução social, à altura das suas capacidades humanas, por simples racismo, herdado da tacanha mentalidade do “poder branco”, próprio do ranço da nobreza européia, com isso colaborando com todos os tipos de cerceamento dos caminhos dessa raça de “diferentes” e “inferiores”. Acontece que, em havendo uma corrente preconceituosa contra um grupo social, estes partem para a defesa dos seus direitos de cidadania e começam a criar órgãos reguladores, atuantes na mídia, e grupos reivindicadores, atuantes em passeatas e manifestações que muitas vezes acabam em desordens e confrontos. Nada disso é producente, a ponto de começar a haver o acirramento da separação, causada pela autodiscriminação dos próprios postulantes, que levam as suas lutas para auferirem benesses além dos direitos dos cidadãos comuns, acendendo a “luzinha” no cérebro do legislador corrupto, que encontra uma brecha para tirar vantagens eleiçoeiras, partindo assim para a criação de estatutos de defesa dos direitos desses “excluídos” – aqui começa a pornografia estatutária.

A criação do estatuto das cotas nas universidades para indivíduos de cor negra ou parda é uma das maiores demonstrações de estupidez explícita que tenho conhecimento; não passa de um grandessíssimo acinte aos direitos constitucionais de igualdade entre os cidadãos, garantidos pela democracia! É o assentamento da discriminação deslavada, sob o manto da legalidade! Isto é apadrinhar as “fraquezas” da sociedade negra, tirando-lhe a força e o direito de demonstrar do que ela é realmente capaz, levando-a “ad infinitum” ao “status quo” de párias brasileiros! O pior nisso tudo é que algumas entidades pró-negros estão seguras de que esse é o caminho da libertação da raça, achando que tudo faz parte de uma grande conquista da comunidade! _Santo Deus, pelo visto a sociedade brasileira continua sem rumo, dando mostras cabais de estar eivada de ignorantes e de oportunistas!

Temos conhecimento de que nos Estados Unidos o preconceito contra a raça negra chegou ao ponto de haver grupos fanáticos de combate à integração social desses indivíduos, alcançando a extremos de muita violência. E agora? O atual presidente de todo o povo norte-americano é nada mais, nada menos, do que um homem de pele negra; ele é, hoje, o homem mais poderoso do mundo! Essa conquista, com toda certeza, não foi o resultado da criação de estatutos “pornográficos” em defesa dos negros, mas sim pelo esforço de superação e na demonstração de que existe o Black Power vencedor, mesmo contra um montão de adversidades e de forças contrárias atuantes.

Nós, brancos ou negros, vamos ter de aprender a raciocinar com bom senso, rechaçando as investidas de idiotas e de “espertos”, travestidos de salvadores da pátria, cujo objetivo é de tirar vantagem, no meio da manifestação de qualquer tipo de preconceito.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 01/08/2009
Código do texto: T1731987