Reminiscências da infância

Assistindo, ou melhor, ouvindo agora Sir. Elton John no show da Globo. (17/01/09).

Como podemos viajar nas notas musicais.

Basta ouvir uma velha canção e as lembranças afloram à nossa mente.

Neste momento vem à minha mente doces momentos da minha infância, quando corria livre pelo gramado, não tinha preocupações, não tinha urgência de nada, além de brincar, me divertir e sorver, o que naquele tempo, eu não sabia ser a felicidade pura. Uma inocência perdida lá atrás, num tempo que não volta mais.

Lembro agora, das minhas bonecas, meus brinquedos, minhas aventuras imaginárias pelo bosque perto de casa.

Corria solta, escorregava sentada num papelão morro abaixo, quantas vezes me ralei toda nesta aventura gostosa, onde desfrutava o doce sabor de uma liberdade infinita e completa.

Tinha dias que brincava sozinha e criava mundos e personagens que hoje parecem tão distantes de mim, como se não me pertencessem mais.

Outras vezes brincava com as amiguinhas que moravam na casa da frente e juntas ríamos de tudo, inclusive de nós mesmas.

Eu gostava muito de desenhar, lembro, que uma vez por mês, no dia do pagamento meu pai trazia um gibi “Almanaque Disney”, eu lia aquelas estórias devagar (porque ia demorar mais um tempão até meu pai poder comprar outro gibi), depois pegava um caderno de desenho,meus lápis de cor e olhava os personagens e os desenhava... (fui fazer isso de novo, na festa de 2 aninhos do meu filho, quando fiz em tamanho maior, todos os personagens de Aladin para enfeitar o salão).

Gostava também de depois de desenhar os personagens, inventar as minhas próprias estórias com eles, me divertia muito e quando percebia, lá vinha meu pai de novo com um gibi novinho em folha...e tudo começava outra vez.

Fui uma criança tão feliz, tão solta, tão cheia de liberdade para inventar...que até hoje me divirto brincando com as palavras.

Minha mãe costumava deixar eu e minha irmã assistirmos TV até tarde quando estávamos de férias. Era gostoso, eu me sentia uma adulta e minha irmã, mesmo sendo 5 anos mais velha, dividia isto comigo. Aliás, minha irmã sempre foi minha melhor amiga, sempre teve um carinho enorme por mim, isto também fez minha felicidade e minha infância doce de ser recordada.

Acho que não me lembro de nada, que me impediria de reviver aqueles momentos outra vez, se me fosse possível.

E a música sempre esteve muito presente em minha vida, costumo dizer que sou uma pessoa musical, é tipo assim, entro no carro e ligo o som, se estou em casa ligo o som, quando estou no PC o som está ali comigo também, por isso é tão fácil pra mim viajar junto com as notas musicais.

Às vezes a viagem é dolorida, porque traz recordações de momentos realmente perdidos, aqueles momentos em que ouvimos música e lembramos de alguém que se foi por força maior... mesmo assim, a viagem nos dá tantas possibilidades, pois revivemos alguns momentos que nos são tão caros à alma.

Lembro agora dos meus avós maternos. Meu avô era um docinho, muito doente, morreu quando eu era bem pequena, mas lembro bem dele, morei um tempo na casa dele (devido a doença, minha mãe precisou ficar uns tempos cuidando dele e eu fui junto). Lembro que ele sempre vinha brincar um pouquinho comigo quando se sentia um pouco melhor de suas dores profundas. Arrumava meus brinquedos quando quebravam e às vezes sentava no quintal, me colocava em seu colo e ficávamos ouvindo o seu pássaro de estimação cantar. Meu vô Alfredo, uma alma quase infantil que deixou uma saudade eterna em meu coração.

Ah como lembrar tudo isso, sem lembrar a minha vó Catarina. Uma mulher forte, guerreira. Com sua baixa estatura era grande, muito grande esta mulher. Tinha uns olhinhos azuis igual ao céu num dia de sol, era vaidosa (herdei isso dela), carinhosa e doce. Na minha lembrança sempre a vejo de cor lilás e seu cheiro era de framboesa (igual aquela bala 7 belo). É assim que me lembro dela.

Ela ficava brava quando alguém a chamava de “velha” e dizia bem assim: “Velho, é trapo!” Aprendi com ela que enquanto formos jovens não na aparência, mas no coração, seremos eternamente jovens.

Ah e as nossas festas de final de ano então? Aquele monte de tios e primos, uma verdadeira bagunça, uma festa!

Minha mãe e minhas tias faziam tudo em casa e a criançada ajudava. Lembro quando faziam macarrão em casa. Tinha uma mesa grande no barracão da casa da vó Catarina. Depois da massa pronta, depois que passava na máquina para cortar, a gente (as meninas) esticava o braço, a mãe ou tia, colocava a massa pendurada em nossos braços e íamos colocá-la em naquela mesa enfarinhada, para que ficasse no ponto (seca) para ser cozida. E esta massa era coberta por panos branquinhos, branquinhos... chego a sentir o cheiro da massa, do molho sendo apurado lá na cozinha. Hum que saudade, que delícia.

Depois de ajudar as mulheres, a gente ia brincar, brincar até cansar, o que demorava bastante.

Lembro de umas férias na casa de praia em Itanhaem... minha irmã, ouviu dizer que passar coca-cola na pele deixava um bronzeado maravilhoso... daí ela resolveu fazer um teste pra ver se funcionava mesmo. E adivinha quem foi a cobaia? Eu mesma. Resultado: fiquei com queimadura por todo o corpo e uns bons dias sem poder sequer olhar para o sol!

São momentos tão especiais, tão bons de serem relembrados.

...E tudo isso, porque estou ouvindo músicas daquela época.

Ah, são tantas as recordações.

Sou tão grata à vida, sou tão grata por hoje poder ter lembrado desta fase tão maravilhosa da minha vida.

Com certeza, quando a gente tem uma infância feliz, fica difícil não ver a felicidade também nas pequenas coisas, acho que é assim que se faz adultos melhores, proporcionando às crianças a oportunidade de uma infância sadia, equilibrada, com valores, limites e amor!

Maristela Silva
Enviado por Maristela Silva em 01/08/2009
Reeditado em 30/05/2010
Código do texto: T1731945
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