Como apreciar pássaros

Como apreciar pássaros

Durante alguns anos, tivemos em nossa casa, criação de canário belga, diamante gold, manon e tantos outros pássaros.

Eu nada entendia de passarinho e nem era a favor de ter pássaros presos em gaiola. Entretanto, como sempre achei que cada um tem direito a “suas paixões”, observava a dedicação de meu marido, sem nada dizer.

Já me fora explicado, que, aqueles eram pássaros próprios pra cativeiro. Intimamente, eu me perguntava se existiria alguma coisa, principalmente pássaros, para cativeiro.

Todavia, a criação era bela e intrigante... Cheia de macetes só conhecido pelos passarinheiros. Eu, mesmo sem me aprofundar, acabava tomando conhecimento de algumas artimanhas adotadas pelos criadores.

O tempo passou.... O esquecimento começou a tomar conta do grande chefe da casa. Os pássaros foram diminuindo; até que por fim, restou apenas um canarinho nascido em cativeiro, e que acabou ficando aos meus cuidados. Às vezes, pensava abrir a porta da gaiola para que ele voasse e sentisse, pelo menos uma vez, a beleza de ser livre e pousar em altos galhos. Mas, ele era tão dócil, tão sem defesa, que eu acabava não concretizando tal desejo.

O pequeno pássaro estava cada dia mais velho; suas unhas estavam longas, ele já não cantava e começava a perder as penas.

Passei a cuidar dele como seu antigo dono o faria: Alpista, jiló, verdura, ovo cozido, uma capa para cobrir a gaiola a noite e protegê-lo do frio. Tudo que, um dia, eu vira meu companheiro fazer.

Porem, como era de se esperar, a pequenina ave após cumprir sua estadia entre nós, se foi.

Tirei-a da gaiola. Coloquei-a numa caixinha. Chamei meus dois netos menores e pedi que enterrassem a pequenina ave, que em tempos idos tanto alegrara nossa casa com seu canto.

Numa solenidade infantil, cheia de pureza e ternura, os netos de 7 e 9 anos cumpriram o ritual do oficio final.

Fiquei refletindo... Finalmente ele estava livre.

Joguei fora a gaiola, despejei o alpiste que restara numa bancada de fronte a janela do quarto onde fica o computador.

Nos dias que se seguiram, para meu encantamento, vi que canários da terra, assim como outros pássaros, vinham em bando saborear o alimento que eu espalhara ou jogara fora.

Agora todas as tardes, deposito todo meu conhecimento de passarinheiro sobre a bancada e fico apreciando de longe, sentada defronte ao computador, a alegria do bando de canários saltitantes, ariscos e livres; que ali ocorrem em busca do alimento a eles oferecido.

Nestes momentos dança em minha mente um texto chinês sobre: “Como apreciar pássaros”

“Quem gosta de pássaros deve plantar árvores, para que a casa fique rodeada de centenas de ramos umbrosos, sendo pátria e lar para passarinhos. Assim, nem bem teremos tempo de olhar para um, e já outro nos atrairá. Isto é um prazer que ultrapassa em muito o de ter um pássaro em gaiola. Em geral, o gozo da vida vem de conceber o universo como um parque, e os rios e regatos como um tanque, de modo que todos os seres possam viver de acordo com sua natureza” (Cheng Panchiao 1693-1765)

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 01/08/2009
Código do texto: T1731094