Nenhuma perda amorosa

Quem conhece esta vida há mais tempo, sabe certos mistérios que ela encerra.

O homem lia e relia a carta recebida. Não era a tradicional carta postada nos correios, mas a sua eficaz substituta, o e-mail. Teve vontade de procurar o amigo que zombava a sua perda, a Bruxinha havia ido embora, casou-se e mudou-se, foi motivo e conversa séria entre os amigos.

O que imaginara, com muito cuidado para não chegar à conclusão errada, estava acontecendo. Acabou procurando o amigo, não conseguiu guardar o segredo que lhe ardia o peito.

- Viu? Eu disse que não era uma situação definitiva.

- Deixa ver este e-mail. Imprimiu por quê?

- Para andar com ele, poder ler quando quiser.

- Deixa ver!

- Nem morto. Não foi destinado a você. É minha, somente minha.

- Deve estar mentindo ou sonhando.

- Você sabe que não sou mentiroso nem brinco com estas coisas.

- Tá bom. Que diz este papelucho?

- Diz apenas que não sou um iludido, um imbecil. Se ela ainda mora no meu coração, eu estou no dela também.

- Bebeu demais, homem? Ela se mandou, mudou de país, casou, vai ter família. Esquece isso.

O amigo estava usando uma artimanha para ver o e-mail. O outro, percebendo a manobra esperta. Podia comentar; mostrar o que havia recebido, de jeito nenhum. Antes de casar, ela havia sido clara. Só aceitava o pedido se ele concordasse e não ser totalmente dela. Queria ser mãe do seu filho, e viver ao seu lado. Impossível! Decidida, ela se casou e partiu.

Mas iria encontrar um mundo estranho, pessoas desconhecidas, perder o contato com a família, amigos e os cães que amava e ama. Ficar sozinha por muito tempo, sem companhia. Sempre teve o bom hábito da leitura. Mas esta é uma faca de dois gumes. Quanto mais se lê autores respeitáveis, mais se fica sabendo acerca do mundo, acerca de si mesmo. E aconteceu o que o homem esperava. A aparente resistência da Bruxinha, talvez a mulher mais bonita desta Terra, acabou por ficar abalada.

E a carta? O que dizia esta carta?

Era simples e direta. Sua íntegra vai sem omissões.

Yuri, meu eterno querido. Antes de mais nada, te peço perdão pela brincadeira da foto nua, que logicamente, não era minha. Foi apenas uma brincadeira. Tomara, que você esteja certo, quanto ao fato, da crise ser passageira e provocada por uma situação que não tem me deixado ser eu mesma, alegre...sapeca...moleca e de bem com a vida,como você sabe que sou. Mas, se não for apenas isso, voltarei para o Brasil e retomarei minha vida. Sinto falta do meu trabalho, dos meus pais pra me acarinhar, dos amigos, de falar merdinhas...rsrs .Aqui, as pessoas são "engessadas", não gostam muito do meu jeito de ser e as vezes me sinto um peixe fora d'água. Quanto a ter aberto a minha vida pra você, não sei o porquê do espanto, afinal, somos almas que se conhecem, e muito... Bom...qualquer novidade, te conto.

Muitos beijos e um carinho do tamanho do mundo.

Maria Eduarda

Não é preciso falar ou deduzir mais nada...