Velho ou idoso?
É engraçado como muitas pessoas denominam coisas, ações ou situações sempre baseando-se em pontos de vista “shojo” (estreito, restrito, acadêmico, conservador), o que faz incorrerem em falácias, às vezes até perigosas e causadoras de mal-entendidos. Tudo no mundo material é relativo, logo o tempo, medido em segundos, horas ou séculos, tem a referência nos movimentos de rotação e translação do Planeta Terra, ou seja, ele está restrito a convenções criadas de acordo com a divisão matemática de períodos, tendo aqueles fenômenos terrestres como relação de medida.
Hoje em dia, quando nos referimos a um indivíduo idoso, até por lei, lembra-nos alguém com mais de 60 ou 65 anos, sendo que, há aproximadamente dois séculos, velho era o homem que estava chegando aos 40 anos de idade - já fizemos algumas conjeturas a respeito, em nossa crônica: 'A humanidade está envelhecendo'. É por essas e outras que a lei criou determinadas prioridades às pessoas mais velhas, porque é sabido que a idade avançada provoca uma série de empecilhos e limitações físicas, que deve ser respeitada pela sociedade mais jovem porque, pela lógica, ela poderá chegar mais tarde nas mesmas condições de vivência, assim tendo, nesse novo momento, que se valer também das prerrogativas de defesa ao idoso, porque é assim que as coisas funcionam.
Se considerarmos os costumes dos orientais, veremos que as pessoas de mais idade são muito respeitadas, a ponto de haver uma cultura voltada para a liderança do primogênito, que será o responsável direto pelos cuidados com os pais e com os negócios familiares, até o fim da vida. Na Índia, sempre a última palavra, em quaisquer decisões, desde as mais simples, é a do mais velho na casa, pois todos ali o consideram um sábio, pela sua maior experiência de vida, o que lhe confere o “status” de cérebro iluminado. _Quanta bobagem! A idade, por si só, apenas permite que haja a existência de idosos, o que não tem nada a haver com sabedoria. O tempo de vida terrena é demasiadamente pequeno para que alguém possa adquirir o verdadeiro saber; a sabedoria é o resultado de uma bagagem de conhecimentos e de experiências acumuladas por muitas centenas de anos, através de várias reencarnações, e que pode despontar em plena juventude da encarnação presente, não havendo assim a necessidade de se caracterizar pela idade avançada. Por outro lado, precisamos distinguir o velho do idoso – o primeiro representa o estado de “deterioração” do físico e do cérebro do cidadão, que pode muito bem ser de alguém com apenas 40 anos, ao passo que o idoso vem a ser uma pessoa com bastante idade de vida, mas que se mantém em pleno exercício do cumprimento de sua missão e do seu destino, mesmo com 90 anos ou mais. O idoso só poderá ser considerado velho, no momento em que venha a depender inteiramente de outras pessoas para continuar sobrevivendo.
É importante que tenhamos a consciência de que filas para idosos, ou estacionamentos, ou caixas etc. devem ser respeitados, independentemente de termos ou não mais de 65 anos, caso estejamos em pleno gozo de nossas faculdades física e mental, porque não devemos nos prevalecer da nossa idade, em detrimento daqueles que realmente merecem maior atenção – temos de considerar que as filas, os estacionamentos e os caixas especiais deverão servir de usufruto somente para “velhos”, gestantes e deficientes físicos. Já ouvi comentários sobre queixas de trabalhadores que dependem da condução coletiva, diariamente, para se locomoverem entre o lar e o trabalho, e que são obrigados a enfrentarem ônibus cheios, muitas vezes porque lá se encontram idosos, aposentados, que não têm a consciência de escolher outro horário mais livre para seus “passeios” gratuitos. Se quisermos ser respeitados, temos que aprender a respeitar os outros, sempre, independente de serem jovens ou não, porque o fato de termos vivido mais nesta encarnação não nos dá a prerrogativa de impormos nossas vontades, nossos ideais ou nossos “direitos” de idoso, a não ser que seja por necessidade real.
Nós, os idosos, temos direitos adquiridos, em concordância com a idade, porém não podemos nos esquecer de que também temos obrigações, em concordância com a cidadania.