Depois da tempestade

Quando a chuvarada começou, além do barulhão de raios e trovões, havia um outro, diferente. Fui lá fora olhar. Pedrinhas de gelo caiam do céu! Em dois tempos o gramado foi branqueando e aquelas coisinhas pulando pareciam bolinhas de gude jogadas ao léu. Tive vontade de ser moleque, e sair correndo catando umas pra mim.

Mas depois da tempestade, quase sempre vem... a falta de luz! E a noite chegou. Acender velas é até divertido, voltamos um pouco no tempo, lembrando o que os pais diziam “quem brinca com fogo faz xixi na cama”. Uma vez, ao olhar bem de perto a vela, queimei a franja, e senti o cheiro do cabelo torrando. Agora que sou “grande” tomo mais cuidado.

A casa ficou bonita, não posso negar. Era vela pra todo lado, sem candelabro, presas em pequenos castiçais, alguns reais, outros improvisados. E nada pra fazer, a não ser olhar as chamas que ora dançavam, ora paravam. Nada de livro pra ler nem música pra escutar. Muito menos rádio e novela na tv. Fora o computador, ali quietinho, desligado.

Só no dia seguinte, muitas e muitas horas depois, a energia voltou. Junto com a elétrica vieram também aquela do sol radioso e a minha, renovada.