Bloqueada e uma Inédita (humor)

Ando sem assunto para escrever. Meio bloqueada. Normal, me dizem. Todo mundo que escreve com alguma regularidade passa por isso. Seja como for, eu havia me prometido que jamais tomaria minha falta de inspiração como mote para um texto. Por isso este assunto acaba aqui, era apenas o preâmbulo para falar de um outro fenômeno que me atinge: a sensação de ”déjà écrire”.

Sabe aquela coisa meio caricata dos idosos, que contam a mesma história uma porção de vezes? Pois é... Como boa parte dos meus textos contam histórias, sempre que algum fato me vem à cabeça com chances de tornar-se uma crônica, começo a me preocupar, achando que não é a primeira vez que escrevo sobre isso. Passei a anotar numa lista minhas lembranças e vou riscando à medida que as uso. Coisa de velha. Precavida, pelo menos.

Mas, uma coisa ainda pior vem acontecendo com freqüência. Tagarela incorrigível, na forma escrita ou oral, estou sempre contando uma piada ou alguma estoriazinha engraçada para amigos e familiares. Por respeito à platéia, digo, aos presentes, costumo me policiar, para não ficar repetindo umas e outras. Agora, para complicar minha vida, além de tentar não ficar me repetindo para este ou aquele grupo ainda tenho que parar para pensar se entre meus interlocutores não há leitores meus antes de contar alguma coisa sobre a qual já tenha escrito.

É muito pra cabeça da loirinha!

Fazer o quê, né? Parar de escrever eu não vou. Parar de falar, menos ainda... O jeito é seguir o conselho da ministra sexóloga: relaxar e gozar. Compartilhar a vida, as letras, as coisas divertidas que vi, vivi ou ouvi.

Se eu me repetir, por favor, perdoem. Pelo seu caridoso perdão, pago com uma inédita.

Ao telefone:

- Alô!

- Alô! Por favor, a Denise?

- Denise? Não tem nenhuma Denise aqui. Você discou errado.

- Ah! Desculpe-me.

Ela desliga, disca de novo, conferindo bem o número.

- Alô!

- Alô! Por favor, a Denise?

- Ah! Agora você acertou! Peraí que eu vou chamar.