E se...

Conseguíssemos fazer as coisas que queremos sem nos preocupar com o que iriam pensar, conseguíssemos comer direito, disséssemos que tanto faz.

Um dia acreditássemos no nosso potencial, entendêssemos as verdadeiras razões daquele pé na bunda.

Déssemos pulinhos pra São Longuinho, permitíssemos acreditar em todos os nossos sonhos.

Falássemos só o necessário, absorvêssemos tudo que vemos, gritássemos e corrêssemos de braços abertos e a toda velocidade até doer do lado da barriga, pagássemos tudo em dia, trocássemos aquela lâmpada, andássemos mais descalços, respondêssemos sempre: não!

Desejássemos a mulher do próximo, comêssemos uma bacia cheia de batata frita com bacon, não pegássemos os panfletos nos faróis, colássemos chicletes no banco da igreja.

(pausa)

E se eu soubesse o que o falecido Ogro queria me dizer quando me olhava quietinho abanando o toco que tinha como rabo? E se eu arrumasse um outro cachorro?

E se eu quisesse que um raio caísse em alguém agora, minha mãe não me amasse e tudo que eu tivesse agora fosse vontade?

E se eu conseguisse ver o sol nascer com toda calma e reverência que esse momento merece?

E se eu não conseguisse mais aguentar?