INCOERÊNCIAS LICENCIADAS (Educação é polidez?)

Um dia, fui à Câmara dos Vereadores para participar de uma capacitação do "PES" (Planejamento Estratégico da Secretaria), como cheguei um pouco depois do início, tive dificuldade para arranjar um assento, pois cada professor, ali, ocupava duas cadeiras, uma para se assentar e outra para colocar seus pertences. Ao entrar, quando empurrei a porta de vidro, soou um barulho que fez notória minha chegada, dei alguns passos para frente à procura de uma cadeira disponível, mas nenhuma estava. Porém, não me restava outra opção, senão escolher uma das pessoas ali e o fiz; passaram-se uns dois a três minutos até que ela arrumasse, no colo, toda a sua papelada e outros objetos de uso pessoal, constrangeu-me muito pedir licença, eles estavam indiferentes. Contudo, eu já tinha compreendido a sua má vontade, ela entraria em prejuízo com relação aos demais! Sendo assim, eu também estava, somente procurei tirar a diferença, dirigindo a palavra àquela “virtual” cursista, digo virtual, porque estava cochilando, minha tão conhecida de outros encontros. É claro que apenas murmurei a seus ouvidos; a reunião estava a todo vapor:

— Não me leve a mal, professora Ana, mas como estar o desempenho do palestrante?

Na verdade, eu não queria saber do desempenho de ninguém. O que eu queria mesmo era quebrar o “gelo”. Ela demorou um pouco até retornar ao mundo real, então repeti a pergunta, foi quando o dirigente virou-se para a tela de projeção, criando oportunidade para o nosso diálogo, que me respondeu:

— Estou gostando!

— Você não acha uma incoerência paralisar todos os gestores e o pessoal da Secretaria para tratarem de um assunto pertinente só a uns poucos diretores de departamento? Falei sem muita propriedade, pois acabara de chegar e ainda não tinha pegado o “fio da meada”.

Naquele momento, interessava-me apenas o momento, e ela teria que me aceitar em “sua cadeira guarda-volumes”, portanto, para isso, estava tentando lhe provar que eu seria uma boa companhia, que me ceder a cadeira foi um bom investimento. E me pareceu ter conseguido, porque ela preferiu desabafar-se comigo a assistir a reunião.

— E o que não é incoerente na educação? – Perguntou-me sem muita meticulosidade e continuou enumerando outras contradições: — Os professores cobram da Secretaria cursos de aperfeiçoamento, e depois colocam mil dificuldades para participar. Veja quantas pessoas estão aqui!

Na deixa, pensei e retruquei imediatamente: — Se todos os professores estivessem aqui como cumpririam o calendário letivos? Quando fariam a reposição das aulas?

— Você tem razão, – disse ela – lembrando que um sábado letivo não serve para repor um dia letivo, sobra pouco espaço no calendário escolar! Que isso também é uma grande incoerência, não se discute.

Conversa vai, conversa vem, e eu já preocupado com o desconforto que estávamos causando aos vizinhos de simpósio, com nosso zum-zum-zum, chamei sua atenção para o assunto da palestra:

— Parece-me que este tal "PES" é igual ao "PDE"!?

— É incoerente do mesmo jeito. — Disse ela com ares de descrença.— Elabora-se um plano de ações financiáveis no início do ano, com dados do ano passado, para se executar com o dinheiro já insuficiente que vai chegar no final do ano vigente.

— Mas, com isso estamos acostumados, – asseverei – elaboramos nossas aulas em janeiro para os alunos que nem conhecemos!

Eu tentei confortá-la; o que consegui foi apenas lhe apertar no amaranhado do infortúnio da libertinagem educacional. Fui, também, um exemplo de incoerência. Como pude ir a uma palestra e ficar tão ausente! Talvez a Ana seja apenas o prefixo de Analfabeto ou Anacrônico; eu, nesse caso, seria o morfema lexical de Claudicar, porém se damos mancadas, ou não sabemos das coisas, ou, ainda, estamos fora de moda, ninguém mais se incomoda com essas coisas! Educação é "polidez"?