FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA
“A vida é esta. Subir Bahia, descer floresta”*
Aqueles “olhos de cigana obliquia e dissimulada”, aqueles “olhos de ressaca”, já os tinha visto em algum lugar. Eu já tinha lido Dom Casmurro mas não associei a minha doce Rosly a Capitu. Só vim me lembrar muito mais tarde quando já a tinha perdido para sempre. Ah, se pudesse ter lhe ajudado em alguns penteados como o Bentinho com sua Capitu e continuado o romance... Pelo menos até onde eles foram tão felizes!
Talvez se eu tivesse arranjado uma fala convincente (mais para sua mãe). Eu era pobre, de descendência negra, inaceitáveis predicados para minha ex-quase sogra entregar sua única e mimada filha. Rosly ficou como uma nódoa em meu brio sentimental. Não pude, fora das evadidas que dávamos, concretizar um amor que devotei tão puro e casto e que contrastava com minha adolescência lasciva.
Já seu pai fazia gosto. Me ensinou até a tomar um uísque impensável para as minhas possibilidades à época. No fundo eu acredito ter sido um filho que ele houvera gostado de ter. Se me juntasse á sua filha seria uma forma de compensar a frustração, hoje eu penso. Eu é que sentia.
A megera me tratava bem, dava de comer do melhor que tinha, me achava inteligente e arguto. Desde que não passasse dos limites da amizade juvenil com sua menina brinquedo. Isso que sua filha lhe servia. Um brinquedo para lhe suprir a solidão da indiferença do marido.
Nossos dois anos de convivência no segundo grau eram de inseparável companhia, na aula, no almoço e nas tardes de estudo que se confundiam entre cálculos, atração de pólos elétricos, amassos físicos e uma química perfeita. Nosso curso era de eletromecânica num colégio técnico. Nossos estudos eram pura anatomia de corpos sem mecânica nenhuma.
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Rua da Bahia é uma rua de Belo Horizonte.É uma das mais conhecidas vias da capital mineira. Localizada na Região Centro-Sul, corta os bairros Centro/Floresta e Lourdes, e serve de limite para a Praça da Savassi. Tem importância histórica e cultural. Já foi palco de manifestações políticas e objeto de diversas crônicas e poemas, de autores mineiros e nacionais.
* O compositor Rômulo Paes é o autor da frase. É a rua onde morava a personagem da crônica.