QUANDO O CIGARRO ME LARGOU!

Considero que quando você leva muito a sério algo muito forte, como largar o vício de fumar, você tem que ter uma posição mais leve em relação a ele.

Não adianta querer bater de frente, pois ele sempre será mais forte e você vai acabar não perseverando ou se desgastando muito.

Fumei em dois períodos da minha vida. A primeira quando adolescente, dos quatorze aos dezenove. Nesta ocasião não foi só largar um vício, foi uma mudança radical da forma de vida que eu levava até então.

Eu com quatorze, quinze anos, gozava de muito mais liberdade do que muitos dos meus amigos.
Eu fui criando esta 'liberdade' para não deixar meus pais preocupados, pois sempre que saia eu nunca dizia a hora provável da volta, e sempre jogava uma margem de erro bastante elástica à frente e mesmo sabendo que ia voltar no mesmo dia, eu sempre já deixava avisado que 'provavelmente' só voltaria no dia seguinte e que ficaria na casa de algum amigo.

Com o tempo isto foi virando hábito e eu já nem precisava mais avisar e às vezes viajava, sem avisar, e passava o final de semana inteiro fora sem causar nenhuma preocupação.

E quando larguei o cigarro nesta época , mudei muitos outros hábitos também, como cortar o cabelo que não era nada pequeno e parei de andar com os amigos de até então, chegados em algo mais do que só cigarro.

Esta mudança se deu, pois considero a vida que levava de até então, como uma procura insaciável por respostas que a vida normal não me oferecia. Sempre fui movido em busca de esclarecimentos que as religiões comuns, e as nem tanto, que eu fui conhecendo pelo caminho, não me ofereciam e a sociedade como tal, na época, também não me atraia.

Li sobre todas as filosofias que me chegavam à mão, e cheguei a cursar Filosofia, mas não era ali também o caminho, mas o ambiente acadêmico me trouxe muita 'bagagem'.

Para mim a ansiedade interior de procurar respostas não me fazia ficar marcando passo e intuitivamente eu logo largava eventual caminho, principalmente se para desvendá-lo tinha que seguir certos rituais demorados ou que de alguma forma tirasse um pouco a minha liberdade.

Era como se não tivesse tempo a perder, e logo já ia em frente e, quando encontrei aquela que me deu as respostas que eu queria e ansiava saber e que era baseada integralmente dentro de lógicas naturais e que também não tinha nenhum ‘sabe tudo’ dizendo o que se deve fazer ou não, além do que o autor já havia deixado escrito, eu radicalmente mudei tudo e todos os meus hábitos de até então.

Cortei o cabelo, larguei a botina e, mudando os hábitos, logicamente, mudei também de amigos e comecei uma nova trajetória, chegando até a usar uns paletós de vez em quando. rss

Foi uma mudança muito radical e os vícios que só tinham ficado debaixo do tapete uma hora voltariam com a sua força.
E chegando este período afastei-me daquele novo ‘meio’, sentindo que um dia iria voltar e ‘fui para a vida’ novamente, não tive outra escolha e ai, nesta nova etapa, chegou forçosamente o momento que também voltei a fumar.

Este período durou quatro anos, dos vinte e três aos vinte e sete anos. Período de extrema vida noturna, como era antes e novo mergulho em um imenso poço. Uma vida onde os vícios anteriores foram sendo jogados um a um na minha frente, novamente, e outros que eu nem sabia que tinha se tornaram evidentes.

Neste período conheci a independência profissional e financeira me tornando, pelo menos nesta parte, estabilizado. Faltava o equilíbrio emocional e para isto tinha que acabar o vício da boemia e o vicio das eternas conquistas, pois para a afetividade eu estava fechado e já nem sabia onde andava a chave.

E olha a volta que eu tive que dar, rsss, para entrar novamente no assunto principal, que é o momento em que o danado do cigarro me deixou.

Com estas noitadas o vício do fumo triplicou, ajudado também pelo maior poder aquisitivo. Tinha começado a atuar em corretagem e era uma época muito boa para os negócios e o que ganhava de dia, torrava de noite. Este período durou uns seis meses, quando comecei a colocar a ‘casa em ordem’, não poderia continuar torrando tudo que ganhava.

Comecei a me organizar e com isto começou a me dar saudade daquele pessoal que lá atrás eu tinha me afastado e que seguiam aquela filosofia que eu tanto tinha apreciado e que se mantinha como uma estrela longínqua a ser alcançada.

Com esta saudade se fortalecendo eu queria largar, antes de voltar , este vício que uma vez eu já tinha largado, mas só que de forma aparente, não na essência.

Tenho conhecidos que já largaram do cigarro há mais de quinze anos e ainda sonham que estão fumando. Estes sempre correm o risco de voltar.

Eu não queria bater de frente com o vício, então comecei a 'brincar' com ele. Acendia um cigarro, dava duas tragadas e o jogava fora. Quando saia com amigos e bebíamos alguma coisa, ou muita coisa, eu fumava livremente, não me policiando, mas quando saia da mesa deixava a carteira, não importando quantos cigarros ainda tivesse dentro. Nunca a levava junto.

Quando alguém perguntava ‘Pô cara, tá louco, a carteira ainda estava cheia’ eu respondia que tinha jogado dinheiro fora quando a tinha comprado e não naquele momento.

E assim foi lentamente.

Acendia um, dava umas tragadas jogava fora. Acendia outro, podia ser logo em seguida e sem mesmo fumar, às vezes, jogava fora, e assim foi.

Tipo: ‘Aqui quem manda agora sou eu’.

E eis que, num almoço, uma moça, após umas olhadas, quando passou pela minha mesa eu dei o meu cartão discretamente e ela me ligou mais tarde, dizendo o telefone dela, e se eu quisesse poderia ligar à noite ou outro dia.

Eu liguei  e ela me pareceu legal, diferente das mulheres que eu conhecia, independente e a voz dela me ganhou. Era uma ótima pessoa e me deu o que eu estava mais precisando naqueles dias que era um pouco de sossego e ai ela foi me aguentando  por mais dez anos.

Ela não fumava e cada vez que eu ia jogar alguma carteira fora, no inicio do relacionamento, ela dizia que deixasse com ela que ela então guardava para outra hora em que saíssemos, mas eu não me permitia.

Era difícil as pessoas entenderem aquele meu hábito.

E assim fui ‘judiando’ daquele vício até que em uma hora passei a ter controle sobre ele e parei naturalmente, sem sofrer tanto. 

Se no final do dia queria dar uma fumada, comprava uma carteira. É um método que pode parecer perdulário, mas vale a pena.

Eu diria que esta foi minha tática para deixar este vício tão prejudicial e que tantos males faz a todos, fumantes ou não.

Se você quer usar esta minha tática lembre-se: Você jogou dinheiro fora não quando vai jogar a carteira ainda cheia, mas sim quando a comprou.

'Zoe' com ele, tire sarro, brinque, vá fazendo este vício perder a força que tem sobre você. Se você vai dar uma volta, deixe-o em casa, de vez em quando, 'de castigo'.

Isto mesmo, de castigo.

Não o leve mais tão a sério, judie dele. Deixe-o ficar lá sem poder te acompanhar.

Para mim foi um bom caminho.

Você vai se acostumando com estas faltas e quando notar já terá criado poder sobre ele e poderá largá-lo definitivamente.

'O homem que não é livre interiormente será um eterno escravo mesmo que seja um rei'. Mensagem do Graal de Abdruschin – graal.org.br