Traição. Traição? Ah sim, a traição.
A palavra vem do latim traditione que literalmente significa tradição, entrega. Mas que em nosso vocabulário significa também deslealdade, infidelidade. O exemplo maior dessa forma de ignomínia registrada pela História é do apóstolo Judas, ao entregar Jesus aos príncipes dos sacerdotes por trinta moedas de prata, advindo seu julgamento pelo povo, sua crucificação e morte. Quantas vezes somos traídos por quem julgávamos amigo, pelos colegas, por nossos parentes. A traição, apesar do abalo emocional, da decepção do traído, não o abala em sua dignidade, honra, virtude, conceito. Ela avilta, macula, desonra o traidor. Cristo foi traído, mas continuou sendo o filho de Deus. Continuou com seu poder, com sua santidade, com seu plano para a humanidade. Portanto, é o traidor quem absorve toda a carga de indignidade, afogando-se na lama do mar da desonra. Mas, a traição a ser abordada neste texto é a conjugal. Quem trai é que cai em desonra. Mas, a exceção do Filho de Deus, me parece que quem é traído ou traída é o grande responsável desse revés. Seja porque não teve a capacidade de se tornar insubstituível, ou porque não conseguiu continuar a ser interessante, porque cansou o outro, porque deixou de despertar o desejo e o encanto inicial, ou, porque foi infeliz na escolha de seu par traiçoeiro. A consecução da traição é a demonstração cabal de que o traidor não teve o talento de sustentar o fardo da fidelidade, de suportar a guarda dessa virtude e incapaz de sufocar o instinto lascivo. Merece o que então? Nada. Nada de ruim. Nada de vingança. Nada mesmo, pois a vida continua e ninguém tem o direito de tirar a vida de seu semelhante. Cristo é o melhor exemplo de sobrevivência à traição, deixando que o próprio traidor, se assim entender, seja seu próprio acusador e juiz. Ninguém, ninguém mesmo, tem o direito de investir-se em justiceiro, principalmente quando a traição seja de uma mulher, quase sempre mãe insubstituível, quando não, a irmã querida, a filha amorosa, a tia carinhosa, a prima preferida, a amiga inesquecível e fraterna, ou qualquer coisa de alguém que não pode ser apenado com a falta daquele ser, mesmo traiçoeiro deve guardar dentro de si alguma ou muita virtude. E quanto ao traído ou traída como é que fica? Deve, passada a decepção, refazer-se e tocar em frente o dom e a benção da vida. E se quiser, continuar a busca ou a espera de alguém a ocupar o lugar que vagou pela indignidade de quem indignamente o ocupou.
NOTA DO AUTOR
Este texto foi republicado em 02/08/2009 no site http://www.ubaweb.com,
podendo ser acessado no link
http://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=26851
O autor agradece a deferência.