80 - COISAS... DO COLEGUÇO - 01

A venda do objeto do desejo só poderia ser feita à noite para melhor se ver quanto ele era bom e para dificultar os olhares indiscretos. Assim ele traria na semana próxima quando estivessem no turno da noite. Todo suspense girava na procura e oferta que havia em torno do objeto pretendido. Na verdade era mais que uma simples venda, era a realização de um sonho antigo dentro e uma lógica mundana. A ferramenta refletia os dizeres e os saberes, que segundo o Ze Geraldo “O Caçador” quanto maior, maior a proteção. Pelo menos no sentimento isso se confirmaria.

Algo que deveria se revestir de certo sigilo estava na boca e mentes de todos empregados daquele turno. Juntos, os dois deixavam passar a idéia que não havia nada tramado, não estava em jogo compra e venda de nenhum objeto importante.

Só que distantes um do outro, revelavam a negociação e pediam silêncio e segredo. A negociação se revelava como se fosse uma barganha de ciganos. Durante o dia um apresentava o produto e alertava do cavalo ou mula: “gosto de mostrar para que depois não se reclame! Observe o dorso do animal as patas e os dentes... Vai até com o arreio e a capa para não desfalcar o conjunto. Será um negócio imperdível!” Anunciava o esperto. “Olhe que peça bonita, estilo mexicano ou espanhol. Este modelo é o mesmo usado pelo Pedro Armendariz no filme o Tesouro de Serra Madre. Aqui nesta parte da America ninguém tem nada igual”, assim garantia o vendedor.

Já o comprador se fazendo passar por lerdo embora todos soubessem, esperteza é o que ele tem de maior. A melhor espingarda de dois canos e a melhor de um cano também, facão de marca USA que se bem afiado cortava até barba, um revolver que garantia ter sido usado por alemães na Segunda Guerra e fora tomado por brasileiros de italianos lá no front do Monte Castelo.

A trama da negociação já estava virando novela. Dia hora e local marcados como se fosse um duelo. Na capanga o símbolo do desejo de um. No bolso do outro bem menos que o esperado, o que estava em jogo era quem melhor passaria a perna no outro. Um pensando “este eu amarro pro resto da vida no serviço e na mina. Já combinei com meu chefe vou dar-lhe de presente. O que não dá é para este peão ficar com tão belo espécime”.

Lobo comendo lobo nesta trama era o que havia um pensando amarro este comprador e faço dele um palhaço.

Na hora aprazada foram para o local combinado um com a mão no bolso da japona o outro com a mão na capanga como se estivesse com armas no coldre. _Apresente-me a grana e eu lhe dou o pau de fogo!

_Não pago mais do que isto e você não poderá chiar, pois trabalha no meu turno.

O outro sacou da capanga uma caixa de fósforos e acendeu e lhe entregou, por este preço só isto você vai levar!

Não deu negócio, até hoje os companheiros não entendem porque não se pode falar de um com outro! Por que será?

Nada se poderia fazer um contra o outro, pois os caras eram muito bons de serviço e não havia como ir à forra.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 30/07/2009
Reeditado em 06/10/2009
Código do texto: T1727068