TUDO TEM UM COMEÇO

... A linguagem dos sonhos são os símbolos e cada símbolo, como você já sabe, fala não só uma palavra, ou frase, mais carrega todo um bloco de conhecimento que rende múltiplas leituras e interpretações.

- Mas nem sempre lembramos dos sonhos...

- Treine a sua observação e você verá que esquecer é falta de treino de lembrar. O segredo está no sonhar.

O Auto da Piedade - Parte III

Sete Atos para Reencenar

III. TUDO TEM UM COMEÇO

- Se esse trabalho de estar na Terra é algo que aceitei fazer antes, isso significa que já fui igual a você, já fui um anjo.

- Você é igual a mim – respondeu o Anjo.

- Você entendeu o que eu quis dizer, não me venha com esse papo de somos todos iguais e blá, blá, blá. Quem está guardando quem aqui?

- Você está sendo tridimensional de novo. Está baseando a sua opinião nos termos da Terra que se divide em ser uma coisa ou ser outra.

No começo dos tempos, só o que foi dividido foi a nossa missão em seres que ficariam aqui orientando e seres que experimentariam por lá. Ainda assim, foi uma divisão parcial.

Você já ouviu dizer que “Os Anjo invejam os homens, pois eles não podem sentir”. É verdade! Nós não podemos sentir o que vocês experimentam na Terra, assim como vocês não conseguem perceber o que vemos daqui de lá. Por isso é que vocês foram buscar essa sensação. É claro que “inveja” é um termo um tanto pesado para representar o respeito que temos por vocês e por sua missão na Terra.

- Peraí, você quer dizer o quê? Que nós somos desbravadores, pioneiros desse plano tridimensional?

- Sim, todos nós temos a mesma origem. Somos criaturas dEli. Ajudando a expandir o seu trabalho por todas as esferas da sua eterna criação.

- Como se Deus precisasse de uma mãozinha humana...

- Ele precisa de todas as mãos, pois cada uma delas é a Sua Mão. Você não percebe isso, pois parte do plano original era esquecer.

- “Parte”?

- Sim, já houve uma época em que todos os encarnados lembravam do plano espiritual, pois havia uma comunicação direta conosco. Nessa época vocês viviam, o tempo todo, com as suas ondas mentais em Alfa, sem temer a luz, sem duvidar.

Olhavam para o céu e viam mais que estrelas, enxergavam todas as dimensões, planos e realidades que se iniciam no Criador e retornam para Ele.

Caminhávamos, lado a lado, Vivos e Anjos, sem distinção, sem separação. Até que percebemos que o amor que queríamos experimentar e trazer para todos os planos não poderia ser sentido se todos vocês fossem iguais.

No plano tridimensional onde impera a lei da dualidade, como poderiam sentir o amor, se não houvesse o seu oposto?

- O ódio?

- Não. A solidão!

Era preciso que vocês, os encarnados, sentissem a solidão. Sentissem que tudo o que havia era o que podiam enxergar no plano físico. Então, decidiram esquecer e para isso, precisavam “morrer” e “retornar” cada vez mais esquecidos da sua origem divinal; além disso, ao voltarem, só poderiam acessar a realidade de Alfa ao caírem no sono. Começava nesse momento, o mundo experimentado em Beta.

Tendo vocês experimentado toda a imensidão da criação, uma “saudade” estranha seria tudo o que restaria da lembrança sobre o que realmente há, mas ao mesmo tempo essa saudade seria a passagem de volta para a nossa dimensão e uma espécie de seta indicando a direção certa no caminho da Terra, pois uma vez esquecidos de quem eram e da sua missão, seria bem fácil se perderem no plano dos desejos.

- Não ocorreu como planejado, não é?

- Não, porque subestimamos o encanto do esquecimento e a fome de poder que nasceu como oposto do nada mais ter.

- Sim, eu me lembro – eu disse e comecei a lembrar de um tempo na Terra, em que estávamos todos vivendo junto.

Era possível ver os seres no céu e ao nosso lado, seres que não estavam encarnados ou no planeta; seres que conviviam conosco no plano físico e nos orientavam diretamente, mas pouco a pouco, essa interação foi diminuindo. As imagens, as vozes foram se afastando e ficando cada vez mais fracas.

Percebi que os contatos extraterrenos não poderiam ser mais feitos e os Anjos e seres divinos se tornariam mitos, arquétipos, contos de fada nas nossas lembranças cada vez mais apagadas.

Pela última vez vi a imagem de Anupadaka e ela foi desaparecendo. Sua voz ressoando em minha mente e dizendo:

- Ficará mais difícil de sentir que eu estou aqui, mas sempre estarei.

Ficará cada vez mais difícil de ter certeza que há algo a mais,

Mais se lembre: eu estarei sempre te guiando.

Então, ele foi ficando cada vez mais distante

Mais difícil de ver

De crer

E a realidade espiritual foi

Ficando

Cada vez menos

Vez menos

Menos

-

.

...continua.