O oposto

Levanto-me. Como por um instinto, dirijo-me ao meu quarto. Lá, está estampado meu rosto; é um retrato, pintado com o meu passado. Olho-o em silêncio. Em poucos segundos, vejo um rosto antigo carregado de mágoa. Sou eu. É, realmente o sou... Há um quê de tenebroso naquele velho olhar. Sinto-o. Rapidamente, sinto também uma vontade: quero afastar-me. Aquele olhar não mais sou eu, penso. Aquilo é um passado estranho; distante. Entendi minha vontade de correr: os opostos se repelem. Atração? Essa nunca poderá haver entre dois espíritos díspares; dois espíritos mitigados pelo tempo. Hoje corro a mim mesmo. Há outro eu em sintonia que me espera. Aquele rosto triste, vago, sombrio, é o meu passado; o meu oposto físico-material.