Mulher imaginária
Filme vai, filme vem e Aurélio sempre dormindo. Quase no final do filme, Aurélio começa a sussurar um nome. Rita gruda o ouvido na boca dele e...
- Luana, Luana venha. Venha para mim Luana.
- Aurélio acorde. Aurélio!
- Luana, meu bem!
- LUANA? Quem é Luana? Aurélio Jorge Santos, quem é Luana?
- Amor, já terminou?
- Quem é Luana?
- E eu que sei quem é Luana?
Ela estava histérica dentro da sala de cinema.
- QUEM É ESSA DROGA DE LUANA? Você estava sonhando com uma Luana? Quem é essa galinha?
Todos tinham dado atenção a ela. Aurélio olhava sem jeito para as pessoas e sussurrava:
- Liguem não, ela é louca. Coitada. Eu disse que não podia tirá-la do hospital.
- E é para lá que você vai se não me disser quem é Luana?
- Amor, eu já disse, não sei. Você entendeu errado, eu disse... eu disse... Ruanda, conhece aquele filme, Hotel Ruanda? Então, esse cinema, o ambiente fez eu lembrar...
- Você é um cafajeste, seu salafrário, ordinário, mentiroso, sacana, canalha, filho de uma p...
Todos na sala começaram a aplaudir de pé. Aurélio estava desconcertado e Rita havia parado de berrar. Mas os aplausos não eram para eles e sim para o filme que havia terminado.
- Vamos amor, já acabou. Vamos, vamos!
- Eu não saio daqui enquanto você não me contar quem é essa puta.
- Amor, não fale assim.
- Vamos, desembucha.
- Tudo bem, Luana é a minha mulher imaginária.
- Mulher imaginária? Que história é essa de mulher imaginária.
- Oras, você nunca teve um amigo imaginário? Então, eu tenho um, só que é mulher.
- Conta outra.
- Estou falando sério. Sabe, todos os homens tem uma mulher assim. Ela surge na adolescência na verdade, se é que me entende. Eu tive três. A Angelina, a Ipanema e a Luana.
- Ipanema?
- Das três, só restou a Luana. Acalme-se, de real é só você. E a Luana não é tanto assim. Ok, ela se parece com a Piovanni, mas nada de mais. Coisa de punheteiro adolescente.
Ao chegarem em casa, Aurélio resolve se desculpar à maneira tradicional.
- E aí, que acha trazer o real para cama, heim Rita?
- Poxa vida Aurélio, essa noite você vai ter que dormir aqui na sala.
- POR QUÊ?
- Porque eu já programei o “trazer o real” com o Marcos.
- QUEM É MARCOS?
- O meu homem imaginário que está me esperando. Boa noite meu caro.
Pegou a mão dele direita levantou à altura do rosto e disse:
- Divirta-se com a Luana.
E foi-se deitar.