Aparências Que Enganam
Publicado há alguns anos no Jornal
Comércio da Franca.
Ao Fiscal de menores, conhecido como "Doutor das
Bicicletas", In Memorian, com carinho e respeito.
A menina pedia, implorava mesmo, para a mãe que a
deixasse ir brincar o carnaval à noite, mas ela não permitia
Antes de completar quatorze anos não podia; as outras
irmãs, as amigas iriam, mas ela a caçula, tinha que esperar
mis um pouco. Só mesmo no ano que vem.
Subia então aquela rampa da A.E.C. resignada, mas pelo
menos iria dançar um pouco naquele vesperal.
Estava tão entretida no meio do salão quando de repen-
te alguém a chama com um toque:
-Volte no período da noite, aqui não é seu lugar, você es-
tá atrapalhando as crianças!
Era o fiscal de menores, pessoa conhecida por todos, me-
nos por ela, a menina que havia há pouco tempo voltado a
morar aqui em Franca, sua cidade natal!
A menina que era moça, na verdade menina-moça, nem
moça, nem menina, olhou para aquele senhor com profun-
do rancor.
Ora essa! A mãe não deixava ir à noite e o fiscal não dei-
xava ir de dia. E aí, o que ela faria?
Chegou a menina furiosa em casa, colocou as mãozinhas
na cintura e disse para a mãe:
-Não me deixaram ficar lá no vesperal, então eu vou à noite
e ai do fiscal se me barrar!
A mãe acostumada com o jeito da filha sorriu e consentiu.
A moça-menina dançou feliz as quatro noites com sua blusa
de seda e o palazzo-pijama que era moda na época.
Passados mais de trinta anos, agora é época da filha dela
ir ao carnaval, que já não é mais na A. E. C. Centro e sim no
lindo salão do Castelinho e para ela não há mais problemas
pois já tem dezesseis anos.
E a menina, que hoje tem já seus tantos cabelos brancos,
acha graça no passado, porque agora todos dão a ela menos
idade do que realmente tem.
E se perguntasse para o fiscal de menores, que ás vezes
encontra nas missas da Catedral, ele certamente lhe daria
no máximo uns trinta e seis.
São as aparências que enganam...