Professor, cadê seu texto? (Os verdadeiros cegos são aqueles que veem mas preferem ser mal conduzidos.)

Ontem, enquanto caminhava pelo corredor da escola onde leciono há mais de duas décadas, ouvi uma frase que me fez parar: "Faça o que digo e não faça o que faço." A ironia daquelas palavras, pronunciadas por um colega professor a um aluno desatento, ecoou em minha mente, levando-me a refletir sobre o poder da influência em nossas vidas.

Como educadores, frequentemente caímos na armadilha de pregar a importância da leitura e da escrita sem demonstrá-la em nossa própria conduta. Exigimos textos bem escritos, mas quantos de nós realmente nos dedicamos à escrita além das anotações no quadro? Esta contradição entre nossas palavras e ações ilustra perfeitamente como a influência age de forma silenciosa e poderosa.

Lembrei-me de uma cena cômica no refeitório da escola: um aluno bocejou e, em segundos, uma onda de bocejos se espalhou pela mesa. Até eu, observando de longe, senti a vontade de bocejar. Este simples episódio demonstra como somos influenciados pelos outros em cada aspecto da vida, desde os gestos mais triviais até as decisões mais complexas.

O Talmude sabiamente observa: "Uma ovelha segue a outra." Esta frase sintetiza a essência da influência. Não são apenas os humanos que sucumbem a esse poder; até os animais são tocados por ela. Um antigo provérbio chinês diz: "Não os gritos, mas o voo do pato selvagem leva os demais a voar e a acompanhá-lo". O exemplo não precisa de palavras para ser entendido; ele fala por si, e quem observa, mesmo que inconscientemente, segue o rastro deixado.

Como professor, tenho visto ao longo dos anos o impacto que nossas ações têm sobre nossos alunos. Aqueles que se dedicam à leitura e à escrita, compartilhando suas produções com a turma, exercem uma influência muito mais profunda do que aqueles que apenas cobram sem demonstrar. Não há como ensinar o que não se sabe fazer; não há como guiar onde não se esteve.

Recordo-me de um momento marcante em minha carreira, quando pedi aos alunos que escrevessem um ensaio sobre um tema complexo. Diante de seus olhares apreensivos, percebi que era minha responsabilidade mostrar o caminho. Sentei-me e, junto com eles, comecei a escrever. O silêncio na sala foi quebrado apenas pelo som de canetas deslizando sobre o papel. Ao final daquela aula, não apenas eu tinha um texto para compartilhar, mas cada aluno havia produzido algo do qual se orgulhava.

A escrita, percebi, é uma forma de condução. Quem escreve tem o poder de guiar o leitor por caminhos de ideias e emoções. O leitor, por sua vez, tem a liberdade de seguir ou divergir, de concordar ou discordar. Mas é na interação entre escritor e leitor que se constrói o verdadeiro diálogo. Como disse a professora Lourdinha: "Os verdadeiros cegos são aqueles que não veem a ordem e, por isso, preferem ser mal conduzidos."

Ao final desta reflexão, lanço um desafio a meus colegas educadores: sejamos exemplos vivos daquilo que pregamos. Que nossos alunos nos vejam lendo, escrevendo, questionando e aprendendo. Pois é através de nossas ações, muito mais do que de nossas palavras, que exercemos nossa influência mais profunda e duradoura. A influência é como um bocejo – sutil, mas irresistível. Ela se espalha, silenciosamente, de um para o outro, moldando comportamentos, atitudes e pensamentos. O que fica é a certeza de que, mais do que palavras, são nossas ações que deixam marcas profundas nas vidas que tocamos.

Encaminhamento de Percepção

1 Quão influente é o exemplo?

2 O que acha do pensamento: Só se aprende escrever escrevendo!

3 Como cobrar para ensinar o que não sabe fazer?

4 Têm os outros professores de outras disciplinas obrigação se saber escrever bem para exigir dos seus alunos melhor desempenho?

5 Por que os rebeldes à leitura são considerados os verdadeiros cegos?