Duas Velhinhas em Nova Iorque


As duas velhinhas muito amigas, aposentadas, viúvas e sem maiores preocupações, resolveram conhecer os Estados Unidos. Dona Cândida, muito pragmática, comprou um curso em vídeoaulas de inglês e passou os dois meses que antecederam a viagem estudando. Quando embarcaram, até conseguia se virar no idioma do tio Sam. Dona Maricota, ao contrário, achava um desaforo aprender outra língua só para passar uns dias no estrangeiro: se aqui, até flanelinha fala uma coisinha ou outra de inglês para agradar o turista no calçadão de Copacabana, porque lá, onde praticamente só estariam em pontos exclusivamente turísticos, não haveria alguém capaz de entendê-las em português?
Já nos States, as duas senhoras perceberam que ambas estavam de algum modo corretas. Algumas pessoas falavam português. Na maior parte, serviçais tupiniquins ou patrícios dos hotéis e restaurantes, além de um simpaticíssimo motorista de táxi carioca. Com os demais, entendia-se dona Cândida, com muita paciência e jeitinho.
Uma noite, estavam no quarto do hotel e Cândida preparava-se para entrar no chuveiro, quando ouviram um alarido no corredor. Maricota levantou-se e foi até lá ver o que era. A amiga ouvia apreensiva os gritos lá fora, agora acrescidos da voz estridente da outra que voltou irritada, algum tempo depois:
- Esses gringos são uns loucos!
- O que foi, amiga?
- Um homem feito! Deve ter bebido, só pode!
- Por quê?
- Uma hora dessas e o infeliz no corredor, gritando "Faire, Faire!" Mandei ele calar a boca!
- Fire!?? Fire é fogo, mulher! Me alcança esse roupão e vamos embora daqui!!
O pobre homem era um dos empregados do hotel e alertava os hóspedes, já que a sirene era muito baixa, ao contrário da média de idade dos ocupantes dos quartos naquela época do ano. Felizmente, era um alarme falso, brincadeira boba de uma criança que acionou um dos sensores de incêndio.
Passado o susto, o restante da estadia em território ianque foi ótimo e elas se divertiram muito.
No dia de irem embora, as duas tagarelavam animadamente no elevador quando, num dos andares, entrou um homem enorme, negro, muito alto e forte, acompanhado de um dobermann, igualmente anabolisado. Ele até tentou sorrir para elas e encetar um cumprimento, mas elas só tinham olhos para o monstro que as encarava furioso e abraçavam-se apavoradas. O homem segurou firme na coleira e ordenou:
- Sit!
Até Maricota entendeu a ordem e, assim como o cachorro, as duas, automaticamente, sentaram-se sobre as malas.
Ele nem tentou explicar-lhes o mal-entendido. Pegou o cão e desceu no andar seguinte.
Quando, finalmente elas se acalmaram, dirigiram-se para a recepção para encerrar sua conta.
O atendente lhes disse que sua conta estava paga, que o senhor Jordan havia pago a conta delas. Para redimir-se do susto causado.
- Como assim? - perguntou Cândida, achando que estivesse entendendo errado o inglês do rapaz educado.
E ele apontou para a porta do hotel, onde ainda era possível ver Michael Jordan afastando-se com um alegre e grande cachorro saltitante.

Imagem daqui.