São Paulo em Tons de Cinza

São Paulo.

Eu hoje estava andando de ônibus por uma rua de são Paulo.

Paramos em um sinal, e reparei no muro.

No muro havia um cartaz, grande! Não sei de que. Mas reparei na foto,

Uma foto de São Paulo, mas uma foto antiga sabe com tons de cinza, em preto e branco.

Bateu-me uma saudade!!!!!

Eu me lembrei desde minha infância, em que esse São Paulo, em tons de cinza, desbotado, era pra mim bem colorido!

Lembrei-me de que brincava nas ruas, de terra, “trepava” em arvores, jogava bola de meia,

De minha juventude, da festa que foi feita na rua quando veio a “luz de rua, elétrica!” e no dia da chegada do asfalto, aquele troço preto!! Tive medo senti o progresso chegando a trote!

Gostava de sair à noite, principalmente em noites frias de outono e inverno.

Colocava um sobretudo preto, um chapéu que era antes de meu avô, e saía na noite,

Sem medo de assalto, coisa rara! Trombadinha? Nem sabia o que era isso.

Malandragem havia sim, mas de uma forma diferente, mais clássica, mais respeitosa,

Não como hoje a bandidagem tomando conta das ruas, das casas tirando o sossego de todos. Antigamente, não, eu gostava de andar. Andar pelas ruas, de paralelepípedos, que refletiam sob as luzes amarelas dos postes, em meio à garoa fina.

Encontrava-me com amigos, conversávamos, às vezes arranjava uma companhia pra andar comigo nas noites fias, alguns reclamavam do clima, mas eu sempre gostava, sempre gostei.

Andava por aí, sem medo, sem perigo, sem susto, às vezes o apito de uma fábrica, mas em geral só a sinfonia da garoa caindo sobre as folhas dos jardins.

Quando em noites quentes, dormia de portas e janelas abertas, sem me preocupar com

quem pudesse entrar alem de um gato assustado.

Não tinha esse banditismo de hoje, essa violência gratuita, essa poluição visual e sem falar dessa sinfonia de palavrões que os jovens de hoje chamam de musica.

Eu, talvez tenha sido rebelde, na minha juventude, “juventude transviada” Talvez às vezes tenha bebido alem da conta, chegado inúmeras vezes ao amanhecer, com o sobretudo encharcado pela garoa.

Mas havia respeito; aos pais, aos vizinhos, As pessoas por pior que fossem, pensavam, lembravam que tudo tem uma conseqüência.

Gozado, que tudo isso me veio á lembrança, vendo, olhando aquele cartaz em preto e branco, no tempo de parada em um sinal de trânsito.

Como era colorido e belo, meu São Paulo em preto e branco!

É. Acredito que eu estou começando a ficar velho!

Sinto isso nos ossos....

Onde coloquei mesmo a minha bengala?