Anti-herói

Anti-herói

Existem certos seres caracterizados por serem tremendamente desajeitados. Carregam dentro de si uma grande sensibilidade.

Quando crianças, se filhos de pais desinformados e despreparados, tiveram, quase como uma tortura, a constante observação: “não sei o que serás quando cresceres, pois não tens jeito para nada”.

São tão desajeitados que conseguiram a grande façanha de serem reprovados numa cadeira denominada Trabalhos Manuais que existia em alguns colégios no tempo da brilhantina.

Essas criaturas não conseguiram pertencer a qualquer das equipes de esporte do colégio e, nem mesmo bater o bumbo da bateria para os desfiles comemorativos da Semana da Pátria.

Quando rapazes, se acontecer de serem convocados para prestar o serviço militar obrigatório, quase sempre são reprovados na cadeira denominada Ginástica.

Esse tipo é tão desajeitado que, quando começa a dar os primeiros passos na paquera, é tropeço em cima de tropeço. Geralmente, é motivo das gozações dos rapazes do tipo “o Bom” e de gargalhada geral da patota.

Apesar de esse tipo de criatura ser tão desajeitado, dentro do seu ser reside tanta sensibilidade que é, justamente, este excesso que o atrapalha.

Com o passar do tempo, essas criaturas vão aprendendo a conviver com esse excesso e os resultados começam a aparecer. Elas entendem que dentro delas, como em qualquer outra criatura, existem todas as habilidades deste mundo e que é necessário investir, pelo menos, em algumas dessas habilidades. Entendem que o passado de ansiedade e desconforto será substituído por um futuro de realizações.

“IOREH” é um novo vocábulo proposto aos estudiosos da língua portuguesa, para batizar essas criaturas.

A justificativa de nossa proposta reside no fato de a palavra anti-herói não ser adequada, visto que essas criaturas não são contra os heróis. São, simplesmente, imagens invertidas dos padrões pintados pela mídia como modelos de fama e sucesso.

“IOREH” celebra, com pitadas de ironia, a existência dessas criaturas que enriquecem aqueles que têm respeito e compreensão para com elas conviverem.

“IOREH” será o herói do terceiro milênio.

IOREH

Não canta uma letra,

nem tira uma nota,

não faz uma cesta,

nem chuta uma bola.

É um IOREH, he, he;

é um IOREH, he, he;

Mas se afina com você.

Não é motoqueiro,

nem luta “karatê”,

não joga a dinheiro,

nem se liga em “TV”.

É um IOREH, he, he;

é um IOREH, he, he;

mas se liga em você.

Preza o trabalho

e tema na canção.

Contra o fumo

e a corrupção.

É um IOREH, he, he;

é um IOREH, he, he;

mas se ajeita com você.

Na paquera é gago,

nem sabe dar um passo,

estranho ao sucesso

e íntimo do fracasso.

É um IOREH, he, he;

é um IOREH, he, he;

mas só é de você .

É um IOREH, he, he;

é um IOREH, he, he;

mas no amor,

só é de você.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 26/07/2009
Código do texto: T1720808
Classificação de conteúdo: seguro