MINHAS DECEPÇÕES
Nesta vida tive muitas decepções. A gente vai vivendo e aprendendo que as coisas não são exatamente como se pensa. Talvez a primeira decepção: não basta colocar açúcar na janela para ganhar um irmãozinho. Em seguida, que trovoada não se trata de São Pedro jogando boliche lá no céu.
Mais tarde aprendi que o mar não é azul. Fui colher numa latinha um pouco de água do mar, e vi que era uma aguinha transparente como água de poço. E o velho sol? Quem imaginaria que ele fica lá paradão no firmamento e nós é que giramos em seu redor. E em certo ponto ficamos de cabeça para baixo. Como é que não despencamos no infinito?
Também aprendi que o arco-iris não é uma passarela colorida, cujo final está assentado em algum lugar por trás das montanhas, mas sim o reflexo do sol nas gotinhas d’água. Querem mais? Uns filósofos escreveram que o que vemos e sentimos não é o mundo real. Quer dizer que esta mesa que vejo não é uma mesa? Este micro em que escrevo não é um micro? Difícil de entender, não é mesmo?
Depois vieram as decepções comigo mesmo. Quando cresci não virei o mocinho valente e sedutor que admirava nos filmes de faroeste, aquele que tudo resolvia na base das belas porradas cinematográficas e dos tiros certeiros. Aliás, nem eles, os mocinhos, eram eles mesmos, se é que me entendem. Quem fazia as passagens perigosas, os atos de heroísmo, eram os coitados dos dublês, o mocinho decerto ficava na sombra, sentado em sua cadeirinha privativa, ao lado do diretor do filme; só dispensava o dublê quando era para beijar a mocinha.
Finalmente, veio – como para (quase) todos os brasileiros – a decepção com a classe política. Sempre julguei, em minha santa inocência, que político teria de ser uma pessoa abnegada e patriota, com uma vida exemplar, tal como Abraham Lincoln; que lutasse pela melhoria de vida do povo e pelo desenvolvimento do país, não exigindo nada em troca. Que entrasse em política rico e saísse pobre, pois, como um entusiasta do progresso, tirasse dinheiro do próprio bolso para sustentar suas ações, seu trabalho insano e sem descanso pela causa democrática (desculpem o tom demagógico, a gente acaba se acostumando...).
Só me falta agora que a Morte, quando um dia vier, não seja aquela senhora magra e de manto negro, com uma foice na mão...