CHE GUEVARA, A FARSA DE UM MITO

Transformado ao longo dos anos numa espécie de "Jesus Cristo revolucionário" graças aos esforços incansáveis da esquerda mundial, o argentino Ernesto Che Guevara é objeto de autêntico culto a personalidade em todo o mundo. Entretanto, a leitura do livro do cubano-americano Humberto Fontova, "O verdadeiro Che Guevara e os idiotas úteis que o idolatram" (Editora É Realizações, São Paulo, 287 páginas), deixa claro que, embora Guevara seja um inegável sucesso de marketing político e comercial, na vida real foi um fracasso.

Lançando mão de muitas fontes bibliográficas e orais, especialmente de ex-companheiros de Guevara, Fontova relata, de maneira impiedosa e irônica, como o argentino, muito longe do homem perfeito idealizado pela mitologia esquerdista, era uma pessoa ressentida, vingativa, incompetente e responsável direto pelo assassinato de centenas de pessoas inocentes de qualquer tipo de crime.

A luta contra Fulgêncio Batista revela muito dos métodos de Guevara e Fidel Castro. Diferente do senso comum, segundo o qual Batista foi derrotado por uma série de intensas batalhas levadas a cabo por guerrilheiros audaciosos, o que menos houve em sua queda foi luta armada. Castro operava sobretudo no terreno da propaganda, de um lado angariando dinheiro das elites cubanas e usando-o para subornar os homens de Batista e, de outro, cultivando as simpatias internacionais, em particular nos Estados Unidos, através da mídia que se encarregou de forjar a imagem de valorosos revolucionários para Fidel Castro e Che Guevara.

Após a vitória, em pouco tempo a verdadeira face do novo regime revelou-se: violência, assassinatos, tortura e prisões. E Guevara teve papel fundamental nisso.

Fontova faz uma clara distinção entre Castro e Guevara. Enquanto Fidel Castro utilizava a violência como meio para atingir um fim, Guevara parecia ver na brutalidade e nos assassinatos um fim em si mesmo. Guevara acreditava que a "violência revolucionária" era a melhor forma de controlar o poder. Assim, desde o começo, ligou-se ao aparato repressivo do bloco soviético, transportando seus métodos para o cenário cubano.

A enorme incompetência de Guevara à frente do ministério da Economia de Cuba destruiu a infraestrutura de um dos países mais prósperos das Américas – a tal ponto que os próprios soviéticos se mostraram impacientes com tanta incapacidade – mas teve a vantagem de submeter os cubanos aos planos totalitários de Fidel Castro.

Mas o mais chocante para os fãs de Guevara que lerem o relato de Fontova talvez seja a imensa distância entre o mito e o homem. Cultuado por líderes de minorias raciais, hippies, alternativos e jovens como um ícone da igualdade e da liberdade, Guevara na verdade tinha uma mentalidade racista, patriarcal, despótica e arrogante, desprezando negros, jovens, "cabeludos", música – enfim, tudo aquilo que, dizem as esquerdas e desinformados em geral, Guevara simbolizaria.

Situações pouco conhecidas envolvendo Guevara, como seu envolvimento em atentados terroristas frustrados nos EUA, seu real papel na derrota da chamada "invasão da Baía dos Porcos", sua participação na repressão à guerrilha desencadeada pela população rural cubana – revoltada pela coletivização forçada das propriedades – e suas aventuras externas em missões militares cheias de muita retórica revolucionária vazia e nenhuma competência para assuntos práticos elementares (que resultaram em seu descrédito como um líder revolucionário viável após fracassar no Congo, e, depois, em sua morte na Bolívia) também são descritas com detalhes pelo autor.

Enfim, o trabalho de Humberto Fontova é importante não só pelas suas informações, que podem ser um ótimo antídoto para os inocentes úteis simpatizantes de Guevara, mas por ser o primeiro livro publicado no Brasil, em muito tempo, a ir contra o senso comum que transformou um homem medíocre em um deus no templo da ideologia comunista.

Destaque também para o DVD que acompanha o livro, com o documentário "Guevara, Anatomia de um mito", contendo imagens e depoimentos sobre Ernesto Guevara desde seus tempos de desocupado na Guatemala até sua morte na Bolívia, complementando de forma muito eficiente a obra de Fontova.

Paulo Diniz Zamboni