Sobre um poema
Discuto com minha filha mais nova, a dificuldade de concluir um poema, pois, cada vez que o leio, sinto que lhe falta musicalidade! Ela procura me acalmar dizendo ser assim mesmo, como tudo que se escreve; chegou a ponto de me dizer que um grande escritor, que não ouso dizer o nome, por considerar desrespeitoso, chegou a escrever um texto cerca de 850 vezes, concluindo, que não adiantaria insistir em coisa tão mal escrita! Dizia-lhe que cada poema tem uma história; mesmo ficção, as histórias existem, e os poetas atuam como se fossem atores interpretando uma peça num palco; ninguém escreve um poema sem interpretar um papel, qualquer que seja ele; ama, se é um poema de amor; sofre, se é um poema de sofrimento; mas em qualquer das hipóteses é um perfeccionista fanatizado, embora tudo que escreva seja relegado muitas vezes, ao esquecimento! Evidentemente, de milhares de poetas, alguns ficam para a eternidade, como os clássicos que pudemos conhecer pelas antologias; imagino, que se nós tomássemos como ponto de partida um determinado poema, poderíamos proceder como quem olha os esboços de uma obra de arte; em visita ao museu de Picasso, pode-se apreciar toda uma seqüência de esboços preparativos da grande obra; dezenas de folhas com o projeto da pintura; tudo é assim mesmo, desde as plantas das casas que pretendemos construir. Podemos escrever um livro, somente sobre um poema que queremos produzir, reservando as últimas páginas para a forma definitiva. Uma obra como a de Fernando Pessoa jamais será relegada ao esquecimento; peço desculpas por igualar os poetas, como se pudessem ser pesados numa mesma balança! Em outra oportunidade, contei-lhes a magnífica poesia de D. Álvaro Augusto, Cardeal primaz da Bahia, na década de 50; daquela mesma época, foi a empolgação com as Elegias do Mauro Mota, que me emocionaram; lágrimas simplesmente acadêmicas! Gosto imensamente de Alonso Rocha, imortal da Academia de Letras do Pará, que me deu a honra de tirar uma foto a meu lado, mas que teve a “coragem” de dizer-me que Fernando Pessoa "tem muita poesia de má qualidade"! Diga-se de passagem, que considero Alonso Rocha um dos grandes poetas brasileiros, não fora ele tão premiado no Brasil e no exterior.Tem a grande vantagem de declamar seus poemas de maneira perfeita - dicção, inflexões e tempos de corte; em música corresponderia à divisão dos compassos!