VII: Passando a Terra a Branco
O AUTO DA PIEDADE
Sete Atos de Consciência
Ato VII: Passando a Terra a Branco
Volto ao mundo branco, mas já sei que estou também no "hospital espírita" onde me guarda o Anjo Raul, que não era Seixas. Eu estava também presente em alguma lembrança ou outra das muitas leituras que você fez do que eu vivi na Terra, talvez apenas fruto dos escritos de um cronista maluco.
Se eu, mesmo sendo apenas letras que entram na sua cabeça, sou real, imagina o Anjo? Na dúvida, ele que me guardasse.
Não quero criar polêmica, mas é melhor você repensar sobre a sua idéia de pós-morte e compreender que todos os livros que contam experiências além da vida são livros escritos por gente que está aí, ou gente que diz que gente que está aqui disse pra ele que era assim ou assado.
De certa forma, eles estão dizendo a verdade, a vida além da Terra é exatamente como eles pensaram e escreveram, só se esqueceram de mencionar que assim como todo mundo possui uma identidade e vive uma vida terrena diferenciada, por mais que pareça igual; o desencarne vai desembocar em uma via de visão única, ou seja, o céu ( ou o inferno) é aquilo que você espera que seja.
A vida além da morte é um mundo branco que você pinta com as cores do seu pré conceito. Leia direito! Leia direito! Leia uma vez mais, devagar e direito!
Quanto mais aberto para o novo você estiver, quanto menos comprar os planos de céu dos outros, menos você sofrerá por aqui. Você sabe aquela da loira que desencarnou e perguntou ao seu mentor:
- Posso na próxima reencarnação, nascer com mais peito. Esse negócio de silicone é uma caída só!
O mentor respondeu:
- Hellooo!!! Nem todo mundo reencarna, filha!
Não entendeu a piada? Volte três parágrafos. Sacou a graça, avance uma linha!
Sim, se a vida na Terra não é sempre justa, você acha que aqui seria diferente? Que basta morrer e chegar aqui querendo lugar VIP ao lado do Senhor? Que não pensando sobre o assunto, vai tornar a passagem mais vaselina?
Menos ego e mais eu, né gente!
Voltando ao seu mundo, posso afirmar que a vida na terra também é um mundo branco.
Você pode usar as tintas do seu coração e pintar uma vida melhor agora mesmo, basta estancar a ferida no peito da arrogância e viver o melhor que puder. Não se preocupe com os seus erros, se concentre no acertar.
Se achar que está ficando louco, relaxe: o louco não sabe que é louco, nem vê a loucura ao seu redor. E ainda assim, mesmo sendo louco, podemos ser felizes, se tivermos plantado flores no jardim coletivo; se tivermos cultivado amores, família, amigos e a fé. Sim, na falta da certeza de que há algo além, cultive a fé, acredite que se nascemos com essa curiosidade de sabermos se somos a causa de algo que veio antes, pode crer que há algo depois, sempre há.
A verdade, como dizia um amiga, é que nem a bunda da gente, cada um tem a sua. A minha verdade, caro leitor, é a sua leitura. Eu existo por ela, ela que é a razão do meu mundo branco. A sua leitura é o alazão negro da minha loucura e a vontade de te mostrar o que há pelo estranhamento é o meu mundo branco, onde as palavras são flores bonitas pintadas na parede da sua imaginação.
Vou deixá-lo agora, amigo leitor.
O meu Anjo da Guarda, quer me ensinar violão. Será que ele ficará bravo se eu pedir pra ele tocar Raul?