Manoelzinho, o garçom
Esse Manoelzinho é uma das nossas figuras folclóricas de Itabaiana. Ele é pequeno, tem o tipo físico de Carlitos, ainda mais vestido com o paletó de garçom e a indefectível gravata borboleta.
Nasceu em Itabaiana e já conta 43 anos na profissão. Assina Manoel Araújo de Lima, conhecido por Manoelzinho Boca Aberta. Ele mesmo um consumidor de álcool, tem seu código de ética. Fomos encontra-lo na churrascaria de Lon, na entrada da cidade. Eu e o poeta Maciel Caju tomando umas cervas, ouvindo o lero de Manoelzinho, que garante: não vende bebiba para menores de 18 anos, não comercializa bebida falsificada, não estimula o consumo abusivo, ensinando aos clientes a beber lentamente, saboreando a bebida, respeitando um intervalo entre as doses, e sempre comendo alguma coisa, ou mesmo bebendo água. Nesses tempos de lei seca, Manoelzinho é um guardião da segurança dos clientes. “Verifico sempre se na mesa há alguém que não está bebendo e oriento o grupo para que essa pessoa seja o motorista”, esclarece o garçom consciente.
Ele narra que trabalhou numa festa na Associação Atlética Banco do Brasil, e pela manhã queria prestar contas ao presidente da agremiação, um tal Nego Tonho, que por estar bolinando uma moça de fim de festa, mandou o garçom embora com o dinheiro do bufê para acertar depois. Manoelzinho tomou um ônibus para a praia de Baia da Traição, arrumou duas raparigas e passou o dia farrando. Na volta, foi para o cabaré de Nevinha e gastou os últimos centavos. Chegou em casa dois dias depois, de porre. Passou dois anos pagando a conta.
Enquanto Manoelzinho ia contando suas aventuras, Maciel Caju rabiscou no guardanapo essa “Toada do Garçom” que passo aos meus leitores em primeira mão:
Quem quiser ser bom garçom
Eu aqui passo a receita:
Agradar bem o cliente
Sem ter medo de careta
E cobrar adiantado
Roubando na caderneta.
Se o freguês rejeita a dose
O garçom vai e aproveita
Se esquecer os dez por cento
Faz que não nota a desfeita
Apela pra Sonrisal
Que é santo de nossa seita.
Porém a maior desfeita
É o cliente chegar
Com ar de cabra mofino
Com deboche perguntar:
“Fora o garçom, o que tem
Para se comer no bar?”
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