INVERNO RIGOROSO
Existem pessoas que vivem de forma tão simples e se contentam com tão pouco que chegam a emocionar. Muitas vezes ficamos reclamando da vida por coisas banais e não imaginamos que o sofrimento se torna normal na vida de tantas outras pessoas. O que para muitos são coisas naturais para outros são o verdadeiro caos. Fiquei pensando no velho ditado popular que diz: "Deus dá o frio conforme o cobertor", repetido na letra de Saudosa Maloca da autoria de Adoniran Barbosa.
Passando pelas ruas da cidade, à noite, observei a presença de moradores de rua, deitados sob marquises, cobertos por papelões e algumas parcas mantas de lã divididas com cães que também servem para lhes aquecer o corpo e daí refleti sobre a simplicidade que estas pessoas se submetem pela pobreza imposta pelo sistema social.
Tenho certeza que eu não suportaria as condições sub-humanas a que se expõem.
Enquanto desfrutamos de um pouco de conforto em nossas casas estas pessoas nem sequer casa possuem para descançar durante a noite. Muitas vezes, também, estes viventes da miséria são convidados para ocuparem lugar em albergue público, mas, temem por sua liberdade e desconfiam da caridade por ignorância ou pela desesperança que a vida lhes impõe.
Como a vida é desigual para seus filhos!
Neste inverno rigoso que estamos passando, bem que poderíamos lembrar destes momentos de agruras sofridos por nossos irmãos e procurar minimizá-los levando-lhes agasalhos, as sobras de nossas casas e algumas palavras de esperança na expectativa de que o sofrimento doa menos em nós do que neles próprios, já acostumados com a injustiça social.
Publicado no jornal Diário da Manhã na coluna Tribuna do Povo no dia 26/07/2009 - Pelotas/RS