Por Trás do Fim do Caminho

Pequena elevação sobre a estradinha de terra. Sentou-se sobre o capim amarelado pelo sol e ficou olhando para o fim do caminho. Esperava que alguma idéia bonita viesse à sua mente, esperava morrer dignamente, esperava descobrir alguma coisa que o fizesse andar de novo, esperava descobrir a sua verdadeira origem, esperava encontrar num vôo de pensamento todos os seus amigos, esperava ficar com o rosto queimado pelo sol da manhã e não ouvir sua tia chamar para o almoço, esperava olhar para cima e não ver nenhum avião, esperava que uma formiga não mordesse a sua bunda (seria preciso álcool, que não tinham em casa, só lá em baixo na vila, e ia doer muito), esperava nascer de novo, esperava não morrer nunca, poder conhecer todos os lugares do mundo, sorrir sempre, sorriu sozinho. No fim do caminho, uma figura apareceu. Seus olhos cheios de esperança juraram que era uma ilusão de ótica. Mas ela se aproximava. Nem mesmo os verdes pinheiros por trás do fim do caminho prendiam seus olhos. Porque agora o cavalo era jovem e belo, vermelho, vinha trotando. O homem não era muito alto, mas dava para ver bem a sua camisa surrada, a calça amarelada, no canto da boca um cigarro de palha, na cabeça um chapéu de feltro escuro e cheio de poeira. E aquela imagem ficou, mas a figura se movia. E ele tentou detê-la, mas de sua boca nada ouviu. Os olhos do homem, agora mais próximo, pareciam frios, esquisitos, calados. Pareciam perguntar o que ele fazia ali sentado. Será que viu seu cabelo? Seu rosto? Seu calção? Suas coxas morenas, gordas e bonitas, seu joelho torneado? Ora, não sou nada, ninguém. Mas os olhos do homem lhe penetravam, procurando por tudo que ele pudesse imaginar e não soubesse dizer. Era tristeza, era isso: era a falta do que comer; era o gado, era isso: não havia mais nada; era a terra, era isso: tantos impostos, tanto papel, o Governo; eram os filhos, era isso: tanta gente para educar; era ele, era isso: moço da cidade, rico, dono de tanta verdade; era o plantio, era isso: um dia tanta cana e tomate, milho e verdura; era o laticínio, o patrão; era a Igreja e a fé, era Deus, era a morte; era o homem, era isso: toda a simplicidade do homem da roça, a verdade a toda hora, o grande papo com ele, tantas coisas a aprender, está muito sério agora, mas logo se põe a sorrir... Aquele era irmão de verdade. Onde está a felicidade? Parece que o homem perguntava agora, ou será que ele pensa em me cumprimentar? Oiiiiiiiii..., m’nino..., ele ouviu aquela voz que parecia uma música... e o cavalo continuou a trotar.

Rio, maio de 1972

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 08/06/2006
Reeditado em 16/02/2012
Código do texto: T171743
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