Renascença
Renascença
PARTE 1
Melancolicamente, ela entrou. Olhou para todos os ângulos, porém nada viu. Atentou seus ouvidos para o barulho externo, mas nada conseguiu ouvir. Silêncio. Sentou-se e tentou ouvir sua voz interior. Nada. Corpo oco, alma despedaçada. Parece que sua vida havia terminado ali. Nada mais lhe falava, somente existia o eco do seu próprio silêncio, silêncio, silêncio... Os dias se passavam e eles existiam somente no calendário porque para Maura os dias já não eram mais dias, eram penitências a serem cumpridas. Maldito o dia em que lhe tiraram a vida de seu filho.
Feliz que era com a trajetória do seu lindo menino, eles viviam num estado de graça pleno. Mas uma graça interrompida pelo trágico acidente do dia 31 de Março daquele ano. O jovem foi atropelado por uma bicicleta quando voltava da escola.
“Mas morrer atropelado por uma bicicleta, é o fim da picada”, murmuravam no seu velório. Não se sabe ao certo como foi, mas foi. Inacreditável, inaceitável, desesperador, mas aconteceu.
Agora já não tinha mais volta, entretanto Maurinha, como era carinhosamente chamada pelos seus familiares, não se conformava. Lágrimas jorravam de sua alma como a água jorra interminavelmente das rochas que lhe pertencem.
No entanto, ainda não estava tudo a perder. Nossa amiga tinha parentes queridos e amigos que não lhe faltavam. Não podiam deixá-la neste momento sórdido. E não a deixaram. Foi uma maratona de rezas, filosofias, terapias, mas Maurinha não reagia. O que faria essa mulher, que sempre foi muita autônoma, convicta, alegre, ressurgir? Pense comigo meu caro leitor, em sua opinião, o que daria Vida à Maura novamente??????
PARTE II
Em minha opinião...
Meses depois, num belo dia ensolarado, Maura chegou mais cedo do trabalho e foi preparar algo para comer. Sentou-se à mesa, a campainha tocou. Olhou pela janela e viu um garotinho mirradinho, com olhar vago. Abriu a porta e perguntou o que ele queria:
_ A senhora tem algo para comer? Passei o dia sem comer nada, disse o garoto.
Naquele momento, seus olhinhos famélicos e sua condição desprotegida tocaram seu coração profundamente. Respirou fundo e respondeu:
_Claro, só um minuto.
Foi à cozinha e preparou um prato de comida para o garoto com direito a um suco e a uma saborosa sobremesa. O menino comia desesperadamente sem parar. Enquanto comia na banqueta, que estava na garagem, a comovente Maura lhe fez algumas perguntas sobre sua Vida. Descobriu que o gracioso garoto perdeu a mãe quando tinha cinco anos. Ele mal se lembrava dela. Morava com o pai, a avó, um tio e três irmãos mais velhos. Como estavam passando por dificuldades, ele saía para arrecadar alguns alimentos depois da escola. Ao ouvir a história de Mateus, a triste mãe se sensibilizou e deixou cair algumas lágrimas disfarçadamente.
Terminando de comer, Mateus disse que precisava ir, pois a avó se preocupava muito com ele. A renovada mãe lhe deu umas coisas para levar e lhe fez um pedido:
_ Você pode voltar aqui amanhã neste mesmo horário? Pode jantar aqui comigo novamente.
Deste dia então, todos os dias lá estava ele com D. Maura. Jantavam, iam para varanda e lá curtiam deliciosas horas juntos.