O portão e a ferrugem

Estava à minha frente, estático, friamente inanimado, ele: o portão.

Não era, ele, o principal meio de se adentrar ao ambiente, todavia era o portão.

Mais simbólico que utilizável, de pouca eficácia, tinha papel e função tanto quanto secundária, preso ao muro da parte oposta da casa na qual vivo e convivo.

Agora, numa noite amena, estupefato, aprecio pela janela, ele, o portão.

Metálico, com uma essência intrínseca, como se originasse e representasse uma fortaleza, lá permanecia ele.

- Que fazes aí portão?

- Qual a sua verdadeira finalidade?

- Seria imprescindível sua presença nesse local, óh miserável e solitário portão?

Tudo isso me faz refletir se realmente necessitamos de certas peculiaridades para nosso bom convívio e funcionalidade em algum ambiente específico.

Seria eu, na vida, assim como o portão?

Qual minha verdadeira e real funcionalidade?

Tenho realmente necessidade de ser útil, sou útil pela natureza inerente ao meu ser ou simplesmente pela minha existência humana, quero e devo, me tornar útil?

Mas, útil a que?

Útil a quem?

A mim mesmo, aos seres ou ao planeta?

Quantas perguntas brotam de minha mente entorpecida por oxigênio sujo.

Quantas dúvidas emanam dentro de minha consciência corrompida e já não pudica em sua essência.

É como se as concupiscências terrenas tivessem me degenerado, como a ferrugem degenera o metal do portão, sem que o mesmo tome alguma atitude por si.

Apenas observa e sente.

A ferrugem manifestada só poderá ser interrompida se algum ser ou substância atuar de forma direta no combate a oxidação que se prolifera vagarosamente e contínua, como um câncer atua no âmago dos corpos distraídos sem ser percebido notoriamente a tempo da busca de solução.

Ao nos darmos conta, quase sempre é tarde demais!

Estamos à mercê das intempéries do destino, da mesma forma que o portão à ferrugem?

Como poderemos, de alguma forma, alterar uma realidade que se faz presente, e nos gera incômodo, desconforto?

O que poderá fazer um portão diante de algo terrivelmente corrosivo à sua estrutura metálica?

E nós mortais efêmeros diante da imensidão do tempo e do espaço, o que poderemos efetuar para obtenção de êxito em nossos impasses cotidianos, infortúnios, patologias?

Se a oxidação vem do oxigênio, então também enferrujamos como o portão?

Fica a pergunta no ar. Ar que respiramos...

- Pensem, óh mortais racionais, pensem.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 24/07/2009
Reeditado em 17/11/2014
Código do texto: T1716699
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