Carta aos ETs, parte VI - Dos pontos A, B e G
Carta aberta aos gnomos, duendes, fadas, e quaisquer outros seres que, em meio a festas regadas a poções encantadas e pó de pirlimpimpim, forem comandar o planeta quando a humanidade finalmente chegar ao seu objetivo final: a extinção.
Pra quem perdeu a primeira parte:
http://castor-ensimesmando.blogspot.com/2007/11/carta-aos-ets.html
Pra quem perdeu a segunda parte:
http://castor-ensimesmando.blogspot.com/2008/01/carta-aos-ets-parte-dois.html
Pra quem perdeu a terceira parte:
http://castor-ensimesmando.blogspot.com/2008/03/cartas-aos-ets-parte-iii-quando-tudo.html
Pra quem perdeu a quarta parte:
http://castor-ensimesmando.blogspot.com/2008/05/cartas-aos-ets-parte-iv-guerras-lutas-e.html
Pra quem perdeu a quinta parte:
http://castor-ensimesmando.blogspot.com/2008/06/carta-aos-ets-parte-v-dos-dias-da.html
No exato instante em que o homem teve, pela primeira vez, a percepção de estar no ponto A, seu espírito foi tocado profundamente por um sentimento questionador sem precedentes, que desde então o indaga incessantemente com uma questão ardilosa: Qual seria a melhor forma para se chegar ao ponto B?
A partir daí foram inventadas incontáveis maneiras de se atingir não somente o ponto B, mas toda a sorte de outros pontos, com exceção do ponto G, para o qual o homem moderno mediano ainda mostra certa dificuldade no processo de localização.
Entretanto, os demais pontos do globo já são café pequeno. Trivialidade, enfim.
Atualmente já não há mais aonde não se chegue pelas bandas desse planeta, muito embora as filas de check in estejam crescendo de forma inversamente proporcional ao lanche de bordo, que um dia já foi refeição, mas hoje se encontra no limiar do “lanchinho”. Muito em breve precisaremos de uma nova definição, do tipo “bolacha de maisena compartilhada”, “gomo de tangerina individual embalado a vácuo” ou algo do tipo.
Alguns, mais empolgados com essa coisa de viajar, já até passearam pelos lados lá da lua, ou, de acordo com os mais céticos, em um estúdio que imitava a lua, o que daria na mesma, afinal uma mentira gigante é praticamente uma verdade de porte mediano... Ou não.
De qualquer forma, foi pela eterna ânsia de locupletar suas vontades de ir e vir que a humanidade criou as mais diversas máquinas nas mais variadas cores e formatos. Destacam-se, entre estas, o helicóptero, o foguete espacial, o trem Maglev, o avião supersônico, o triciclo Bandeirantes e a Kombi. Esta última, sem dúvida, a invenção mais simpática e genial do ramo dos transportes.
Dentre todas as possíveis formas de transporte de pessoas, certamente o automóvel é a que desperta mais emoções no ser humano. É uma máquina que há muito já transcendeu às questões logísticas para adentrar ao capcioso mundo das relações sociais.
Afinal, convenhamos: Um cidadão que adquire um carro esportivo de meio milhão de lascas não tem como foco principal o percurso do ponto A ao ponto B, seja lá qual for a velocidade em que o sujeito for fazer isso. Neste caso, há uma infinidade de objetivos diversos, tal qual o aumento das chances de efetivar conjunção carnal, o fato de ter-se um carro mais caro que o do vizinho, uma eventual compensação a desproporções anatômicas que causem constrangimentos, ou simplesmente a atração da atenção alheia para si mesmo.
O advento dos automóveis, aliás, nos trouxe ainda um problema deveras peculiar: O engarrafamento.
O engarrafamento é uma espécie de evento social de caráter anti-social, no qual inúmeras pessoas se reúnem em vias públicas, cada qual isolado em seu próprio veículo (estranhamente projetado para quatro ou cinco pessoas), para juntos emitirem a maior quantidade possível de dióxido de carbono, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos, óxidos de enxofre e outras substâncias de nomes estranhos que podem matar pessoas, enquanto se irritam mutuamente pelo simples fato de estarem ali parados.
Um ritual peculiar, sem dúvidas. Mas nós humanos somos assim mesmo: precisamos exercitar nosso estresse diariamente.
Caso contrário, correríamos um sério risco de não mais haverem crimes e guerras, e todos invariavelmente morreriam de tédio.