Amanheceu Nevando

Hoje amanheceu nevando e deu uma vontade de ficar em casa e não ir trabalhar, daí liguei pro chefe e usei a primeira desculpa que veio a mente:

- Desconfio que estou com a gripe suína!

O fato de morar em Uruguaiana ajudou a convencer o patrão, que disse que eu não me preocupasse com nada, pois o mais importante era que eu me recuperasse, sem saber que eu sabia, que ele queria mesmo era distância do funcionário infectado.

Fiquei um pouco com remorso de usar a desculpa da gripe, mas aquele não era um dia comum, aquela neve que caia, aquele quintal branquinho, convidava ao ócio e a reflexão - Cada um usa a desculpa que pode. Como eu não podia matar a mãe ou o pai, afinal, todos sabiam que eu era orfão, só restou a desculpa do vírus.

Porém, algo estranho começou a ocorrer: passei a sentir meu corpo quente, coloquei o termômetro e quase caí da cama, a febre estava acima de 39ºC. Faltava apetite, sentia dores musculares e muita tosse. Para piorar começou o catarro, uma dor na garganta, vontade vomitar e uma diarreia bem forte.

Consutei o Dr Google e ele me dizia que tudo o que eu estava sentindo tinha cara de gripe suína. Daí enlouqueci, não sabia se o surto também era sintoma, mas saí de casa em direção ao hospital, rezando a Deus para tudo aquilo ser apenas um susto, um efeito placebo ao contrário da minha insensatez em usar aquela desculpa para matar o trabalho.

A fila no posto era de dar pena, ou seja, eu tive que voar dali e ir para outro lugar, que também tinha uma fila gigantesca. O pior é que nevava lá fora, e eu nem conseguia aproveitar aquele dia único, pois passei todo o resto do dia de hospital em hospital, até que fui atendido e internado imediatamente.

No leito do hospital, com a máscara na cara, olhei a neve caindo do lado de fora da janela e tudo o que mais desejei foi estar no escritório trabalhando, qualquer lugar, longe daquele mundo branco.

Dormi, quando acordei, estava de volta em casa, na minha cama. O alarme tocou me lembrando que tudo tinha sido apenas um sonho frio de uma noite de inverno.

Lá fora a neve caia, como nevara no sonho, mas não pensei duas vezes, tomei um banho, vesti minhas roupas, coloquei o casaco e saí pelas ruas, feliz por mais um dia de trampo.