Samba, Futebol e Cerveja ou (Pão e Circo da Era Moderna)
Não estou aqui para condenar ninguém, muito pelo contrário, saúdo a seleção brasileira e todos os brasileiros fanáticos (assim como eu) pelo melhor futebol do mundo (mas não vamos contar com o ovo na galinha). Não vamos gritar aos quatro ventos que já somos hexas antes do apito final. Achar que ‘a copa do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa. ’
Mas também não estou aqui para passar a mão na cabeça de todos os brasileiros fanáticos (assim como eu) pelo melhor futebol do mundo, como se fosse um grande pai caridoso.
Estamos numa época mágica, onde todas (eu disse todas mesmo) as preocupações que afligem cada um de nós são colocadas dentro de uma ‘cartola’ e desaparecem. O sentimento patriótico é exacerbado, ficamos deitados em berço esplêndido por 1 mês inteiro. Driblamos o patrão, bolamos aula, faltamos ao emprego, decidimos que só importa ver e respirar futebol. É uma espécie de merecimento divino.
Esquecemos dos políticos que não vão votar aquela lei importantíssima para o país, que o assassino confesso continuará solto graças a um hábeas corpus de um famoso juiz, que o nosso salário não vai aumentar porque a ‘nossa’ seleção foi campeã, o desemprego continuará subindo, os empresários neo-capitalistas continuarão a demitir para cortar custos e aumentar a produção, visando lucros e mais lucros. As guerras continuarão a matar gente inocente.
Esquecemos ou deixamos de lado aquele projeto por que lutamos tanto na empresa, que existem milhões de pessoas que passam fome neste país, que a segurança da população é precária, que o estado é ineficiente em quase tudo.
Aquele regime fica pra depois da copa; aquela votação na câmara fica pra depois da copa; as revisões dos problemas econômicos, sociais e ambientais também ficam pra depois da copa... E assim vamos empurrando com a barriga os problemas, as dívidas, as dúvidas, as promessas e tudo o mais que for conveniente.
Samba, futebol e cerveja passam a ser os 3 mandamentos do brasileiro em ano de copa.
Assim como na Roma antiga, onde o povo era comprado com comida e diversão (daí a famosa frase: pão e circo), para que não se revoltassem contra seus governantes, a copa do mundo exerce um fascínio no ser humano (fanático por futebol) assim como eu, e ficamos mansinhos e esquecidos.
E esta é a deixa para que muitas coisas que deviam acontecer desapareçam de pauta e aquelas que não poderiam nunca começar, estejam já antigas depois que voltarmos nossos olhos para a realidade.
Mais uma vez venho dizer que não estou condenando a copa do mundo (pois eu estarei na frente da TV vendo quantos jogos forem possíveis), mas apenas lembrando que ‘a vida continua’ apesar de tudo, e que devemos estar atentos aos acontecimentos cotidianos de nossas vidas. Não devemos nos cegar para os problemas que nos rodeiam apenas porque a copa do mundo começou.
Porque a copa vai passar, mas os problemas permanecerão até a próxima, e aí em 2010 começa tudo outra vez!