AS DUAS IRMÃS

AS DUAS IRMÃS

Na adolescência quando surgiram os primeiros vestígios de barba em Afonsinho, junto com a penugem cresceu também um desejo machista. O de se casar com duas mulheres ao mesmo tempo. Um absurdo. Os amigos que naquela época apoiavam o seu devaneio adolescente, com o passar do tempo notaram que aquilo jamais seria possível.

Já na fase adulta, o único que não se casara de uma turma de cinco amigos era Afonsinho. O que na adolescência era só um desejo machista, tornou-se uma verdadeira obsessão.

Com todos os seus quatro amigos já casados e a maioria deles, pai de família, só se encontravam uma vez por semana, aos domingos. Para assistir a um bom jogo de futebol.

- Diz ai Afonsinho, quando é que você vai desencalhar? Já está quase fazendo trinta e é o único solteirão da turma, será que vai ficar pra titio? – O comentário debochado de Guto arrancou risos dos demais. E com uma tristeza profunda Afonsinho respondeu e calou o riso de todos:

- É Guto eu sei disso. Mas como eu posso ficar com uma mulher só, se não é isso que eu quero? Se não for com duas mulheres, eu não me caso, e tenho dito.

Passaram alguns meses depois desse último encontro dos amigos e Afonsinho se encontrava num abatimento terrível. Desconsolado e solteiro Afonsinho foi a um baile de primavera, comum na sua cidade. Isolado num canto completamente distraído tomou um susto tremendo ao ouvir uma voz delicada lhe perguntar:

- Está sozinho? – Essa voz doce e penetrante era como soneto de violino.

- Sim estou, mas por quê?

- E que eu minha irmã Dádiva somos novas na cidade, e se não for incomodar, queremos fazer novas amizades. – Afonsinho vislumbrou sua chance.

Divina e Dádiva, duas irmãs, amigas e confidentes da vida inteira. Estudaram na mesma escola, moraram na mesma casa. Dividiam tudo. Batom, calcinha, perfume, roupa e também namorados. Eram cúmplices em tudo. Definitivamente tudo.

Quando se aproximaram de Afonsinho, perceberam que causaram um gostoso espanto no rapaz. Afonsinho era além de tudo um rapaz de muito boa aparência, assim como Dádiva e Divina, duas moças pra lá de bonitas.

O Brilho nos olhos de Afonsinho era inevitável. E as moças claro, perceberam seu interesse. Lá pelas tantas da madrugada, após muita conversa e muita bebida, Dádiva deu um beijo pra lá de caloroso em Afonsinho. Daí o espanto.

- O que é isso Dádiva? Deus nos ensinou a dividir o pão. – Afonsinho teve um orgasmo na alma ao ouvir aquelas palavras. Chegou bem perto de Divina e plantou um beijo fogoso em sua boca. Pronto. Afonsinho estava no céu.

Dias depois contou o acontecido aos amigos, que se morderam de inveja pela façanha de Afonsinho.

Nos meses seguintes aquele triângulo foi ficando sério. Acreditem que Afonsinho foi pedir as duas em casamento para a família das meninas. O pai das meninas, o Seu Ademir, colocou o rapaz numa saia justa terrível. Imagina que o velho quis que ele escolhesse, apenas uma, das duas moças.

- Seu Ademir, eu não posso escolher uma só. Eu amo as duas.

Dádiva e Divina protestaram numa só voz.

- Nos o amamos e queremos ser esposas dele. - Seu Ademir que nunca negara nada para as filhas, respondeu com o amor sublime de pai, mas com ódio estampado no rosto.

- Tudo bem, mas qual das duas será a amante? - Dádiva respondeu com ar de deboche:

- Pode ser eu. Vestido de noiva não me cai bem. Mas faço questão de ser a dama de honra. Nesse instante rolou uma lágrima de desgosto na face de Seu Ademir.

Sob protestos morais, Seu Ademir concordou com a loucura das filhas.

Um mês depois estavam no altar, o noivo Afonsinho, a noiva Divina, a dama Dádiva e a felicidade formidável no rosto dos três.

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 23/07/2009
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