Respeito -é- lei
“É obrigação do Estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.”
(Estatuto do Idoso – Cap.II – Art.10º)
Embora os funcionários se empenhassem para controlar a situação evitando um escândalo, eu e todos que estávamos esperando atendimento no balcão dos frios daquele supermercado pudemos observar a senhora que, aos 85 anos de idade, com problemas de coluna, trazia consigo uma bengala na qual se apoiava e o Estatuto do Idoso, no qual sustentava suas reivindicações por atendimento preferencial.
Enquanto essa senhora reivindicava sabiamente, conhecedora de seus direitos, pude observar o gerente e funcionários. O primeiro querendo apenas silenciar a senhora que não fugia em momento algum aos padrões da educação socialmente aceita, na verdade parecia mais disposto lograr a senhora e entre sorrisos tirar-lhe dali na tentativa de acabar logo com tudo aquilo. Quanto as funcionárias só repetiam estarem cumprindo ordem de atenderem na ordem da fila, sem preferências.
Continuei observando enquanto aquela senhora argumentava com base na lei, ainda reivindicando seu direito de atendimento preferencial e notei atrás, na mesma fila, outra senhora já com seus cabelos brancos comentando com outra:
-“Tem gente que sai de casa já disposto a brigar e causar confusão. É só ficar na fila e esperar, que custa?”
Vivemos um tempo de conquistas. Temos estatutos, leis que nos protegem e no entanto mal conhecemos nossos direitos, nos colocamos às margens da vida, deixamos de lado o que nos é de direito e aceitamos, agradecendo, as migalhas quando nos são oferecidas sem nem ao menos buscarmos saber ou ler ou conhecer quais são realmente nossos direitos e assim por eles lutarmos.
Antes de qualquer coisa somos povo e como tal temos por lei nossos direitos garantidos, mas de que adianta a lei nos garantir coisas como as que essa senhora reivindicava se o próprio povo ou desconhece ou está tão desfalecido no comodismo que nem ao menos consegue comungar da mesma idéia?
Eram duas senhoras e duas mentalidades muito diferentes.
Uma conhecedora de seus direitos e lutando por eles enquanto a outra, enterrada no comodismo, colocava-se ainda a espera das migalhas que estavam por vir.
Já passou da hora dos nossos idosos serem vistos e tratados com respeito, dignidade e admiração que lhe são de direito, mas também é preciso que não “aposentem” o determinismo necessário para mudar essa realidade e continuem lutando pelas mudanças e melhorias das quais são merecedores.
Não basta apenas ter um estatuto, é preciso que entre em vigor não apenas em alguns lugares, mas em todos quanto possa alcançar e para isso, precisamos de mulheres e homens fortes e sábios, conhecedores não só da lei, mas principalmente dos seus direitos e valores como se mostrou essa senhora.
Que não seja apenas “obrigação” do Estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, mas a conquista de uma luta daqueles que honrosamente deram sua contribuição para o desenvolvimento desse país.