Jeitinho Carioca
Não há dúvida alguma que o Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa... Seu encanto transita entre as belezas naturais e as obras turísticas, compondo um cenário interessante e sedutor aos olhos dos turistas, e um palco acolhedor aos que possuem a felicidade de lá morarem.
Uma conhecida minha, que mora na Barra da Tijuca, adorava seu apartamento que, com vista para o mar, proporcionava a ela um prazer inigualável. Com uma área útil relativamente grande, o apartamento proporcionava a ela um lar acolhedor e espaçoso.
Como era viúva, morava sozinha, e muito caprichosa, seu apartamento era digno de sair em revistas, tal o bom gosto que expressava toda a decoração do mesmo.
Esta conhecida pessoa notoriamente bem humorada e de uma vitalidade admirável, sempre que contava com a companhia de alguma amiga, viajava e passeava, desfrutando sua vida da melhor maneira que podia. Dava gosto observar sua disposição para a vida, e embora fosse um pouquinho desligada, sem dúvida era uma pessoa que possuía o vigor da eterna juventude...
Certo dia, ela e uma amiga foram passar o fim de semana numa cidadezinha do interior, retornando no fim da tarde de domingo.
Era uma tarde bonita, porém ventava muito e o mar apresentava-se com uma cor esverdeada, sinalizando uma possível tempestade.
Ambas chegaram alegres e animadas, lembrando-se das passagens mais divertidas da viagem e comentando alguns lances interessantes.
Tão entretidas estavam com a conversa, que ao abrirem a porta do hall de entrada do apartamento, por um momento ambas, não se atentaram para o fato de haver som no apartamento.
Segundos depois, uma olhou para a outra, e a dona do apartamento, arregalando os olhos, franziu a testa e comentou baixinho:
Olímpia, a televisão está ligada em meu quarto, e quando saí sexta feira, não deixei nada ligado.
Imediatamente Olímpia, sempre protetora da amiga, por julga-la inocente ao excesso, de imediato concluiu que havia algum ladrão no apartamento.
Tão logo emitiu seu diagnóstico a amiga, puxou-a pelo braço e fez com que ela saísse rapidamente do apartamento, encostando a porta sem fazer qualquer barulho.
Já no corredor, minha amiga já um pouco assustada, lembrou-se que, no andar de cima morava um policial.
Sem pensar duas vezes dirigiu-se para lá. Ambas se postaram na frente da porta, aguardando que a esperança de uma solução imediata chegasse através deste homem.
Logo que atendeu e tomou conhecimento da situação que vivia sua vizinha, prontamente dirigiu-se com elas até o apartamento.
Estava de bermuda, sem camisa, chinelo e, antes de sair foi até seu quarto e retornou com um revolver na cintura.
Ao chegarem no apartamento de minha amiga, abriram a porta do hall e os três entraram silenciosamente. As duas amigas permaneceram quietinhas e um tanto assustadas na sala de estar. Já o policial foi percorrendo todo o apartamento em busca dos intrusos e possíveis assaltantes.
Quando chegou no quarto principal, de onde provinha o som da televisão, o policial entra e dá com uma mulher de camisola, assistindo televisão.
Ele retorna e um tanto desconcertado comenta com a vizinha que há uma mulher no quarto dela
Imediatamente Olímpia sussurrando declara:
É a mulher do ladrão! Que audácia!
Minha amiga, mulher de boa fé, espanta-se e apenas consegue murmurar um Ah!
Observando a cena, o policial retornou ao quarto, agora com a arma empunhada e o olhar mais duro e apreensivo. Afinal, nunca se sabe o que pode ocorrer numa hora destas.
Como ela não reagiu, o policial perguntou educadamente:
Quem é a senhora e o que está fazendo aqui?
Imediatamente a moça desvia o, olhar da televisão e responde calmamente. Sou Inês!
O policial, embora sério pode perceber que a mulher nem havia se abalado com sua presença, retorna a sala e comenta com minha amiga.
Ela disse que é Inês.
Minha amiga com ar de indignação diz ao policial que ela nada tem a ver com o nome da referida mulher e que apenas gostaria que ele desocupasse seu apartamento, pois estava louca para tomar seu banho e assistir o Fantástico!
Novamente o policial retorna ao quarto, enquanto as duas senhoras na sala, se escondiam atrás do sofá com receio que os bandidos ainda reagissem e houvesse tiroteio...
O policial chega, desliga a televisão e, sentindo-se constrangido pela falta total de reação da suposta assaltante, dirige-se a ela e pede que se identifique.
Calmamente a mulher diz:
Meu Deus... sou Inês, amiga de Carmela!
O policial completamente sem saber o que fazer, retorna à sala e depois de chamar por Carmela, repete o diálogo do quarto,
Neste instante, Carmela arregala os olhos e se põe a rir como louca...
Tanto o policial como Olímpia, sem nada entender entreolham-se, já desconfiando que Carmela não estivesse sentindo-se bem. Mas, antes que ambos pudessem oferecer qualquer ajuda a ela, a mesma comenta:
Meu Deus... havia esquecido...Inês é uma amiga que conheci há anos, e que mora em Santa Catarina. Emprestei a chave do apartamento para ela, já que não estaria aqui no fim de semana...
Dito isso, dirigiu-se ao quarto e ambas se abraçaram animadas.
Intrigado o policial esperou que ambas retornassem a sala e ao se despedir, não conteve a curiosidade e perguntou para a mulher que, vestida de camisola, abraçava-se à amiga:
Escute, como foi que não reagiu ao ver um homem, de bermuda, chinelo, sem camisa e de revolver, entrar no quarto?
Calmamente a moça responde:
Realmente achei o senhor bem estranho, mas como escutei a voz de Carmela na sala, achei que era namorado dela!
Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenvolvimento de Pessoas