UM OLHAR SOBRE A VIDA

Um mero olhar direcionado a alguém pode desencadear grande variedade de significados e ocasionar tanto o fluir desesperado da adrenalina pelo corpo do alvo desses olhos, quanto o suave e agradável circular da serotonina acendendo as luzes multicoloridas da sensação de prazer e trazendo o êxtase do Nirvana como num passe de mágica. Para isso, sem sombra de duvida, basta a pequena proporção da sutileza ser ativada, talvez o rápido exibir do esgar explícito dos lábios em pequenos movimentos quase imperceptíveis ou o repentino drapejar da sobrancelha em contínua contração, e o mundo se abre aos seus pés com todo esplendor. Os frutos desse momento instigante hão de ser colhidos e degustados sem o menor resquício de cerimônia, sem pejo, sem pensar e não dando vazão para reflexões desnecessárias. Algo similar ao instante em que o tudo se esvai em nada e o singelo e invisível fio a separar a vida da morte pode ser facilmente atravessado quando qualquer limite é atingido e, a seguir, ultrapassado. Quando isso acontece, mormente de maneira súbita, a oportunidade de usufruir de algo com gosto de novidade não pode ser desprezada nem deixada de lado após estar em nossas mãos. O novo sempre encanta e atiça a curiosidade

Que dizer, por outro lado, e somente para exercitar o imaginário, de um surpreendente aperto de mão despertando desejos e paixões recalcadas no recôndito d’alma há tanto tempo? O mundo gira enlouquecido quando isso acontece e nesse interlúdio momentâneo porém especial, a pressão se altera e o sangue flui numa carreira desmedida, os olhos ficam avermelhados, quase inchados pela forte irrigação sanguínea, as pernas tremem, a boca seca parece deixar surgir um gosto acre de papelão nas papilas gustativas e pontinhos extremados de raio laser piscam no ar como se fossem vagalumes excitados. A partir desse momento, tantas vezes, nos descobrimos com espaços sui generis sendo revelados ante nossos olhos atônitos, mistérios rapidamente esclarecidos, travas dos olhos caindo, tudo sendo visto tão clara e explicitamente. Como se a vida tomasse os contornos de outra dimensão.

Todos somos apenas minúsculas ilhas ansiosas no incomensurável oceano da existência humana, nessa busca incansável de afeto, atenção e amor, este nas suas mais diversas formas e devaneios. Falta-nos reconhecer o inusitado desse paradigma estranho, porém verdadeiro. Porque embora estejamos lado a lado ao longo dessa incomum e divertida jornada de emoções que é o viver, é bem verdade estarmos sozinhos conosco mesmo dia após dia, emaranhados nos próprios pensamentos e sonhos muitas vezes não confessados, escondidos, escamoteados. Na conformidade desse diapasão, enxergando sob tal ângulo a condição solitária de cada universo humano, bilhões de seres vivendo em sociedade, mas encarcerados em seus mundos íntimos, permaneceremos presas do cárcere da alma, fechados em nossos inconfessáveis murmúrios silenciosos ainda que tão próximos da pessoa amada no leito, no sofá, à mesa, no carro, no cotidiano.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 22/07/2009
Código do texto: T1712597
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