sem título
Ela adora ouvir música. Fica bem quietinha no meu ombro, na direção do aparelho de som. É certo que ela depois de um tempo costuma ficar quietinha, ao menos até se encher, compenetrada, mas sempre direciona a cabeça ao som e à televisão, como se entendesse tudo que é dito. Sempre espero receber carinho dessas relações mas sei que não passa de uma ilusão. Quando estou triste costumo recorrer a eles, na esperança de ser consolada e me agarro a eles, converso, desabafo. Coisa que eu jamais faria com um semelhante. É fácil fazer esse tipo de coisa com quem não lhe entende, não pode lhe repreender, não pode rir de você nem tampouco lembrá-la de todas as vezes que já fez isso. É fácil se confessar para quem jamais lhe dirá que é tudo paranóia da sua cabeça, que depois de um tempo, de um banho, de um filme você já terá esquecido de tudo e voltará a viver sua vida como sempre fez. É ótimo se enganar, mas o melhor de tudo é saber que não ouvirá soluções inventadas, palavras faladas sem o menor embasamento, inventadas para lhe acariciar, fazendo com que esqueça isso, e volte a sorrir.
Nunca sei o que é verdade. Sinto os momentos de felicidade perto de mim, mas são tão escassos... É como se tivessem que ser sempre a excessão. E quando tento fazer deles a regra, sinto que estou me enganando. Não aceito mostrar-me como um ser humanos aos outros, prefiro parecer uma pedra a permitir que transpassem a minha pele e descubram o que se passa no meu íntimo. Quero ser forte e mais do que isso, quero mostrar que o sou. Não me importa que eu não seja, contanto que consiga enganar a todos, inclusive a mim mesma. Ser forte, interessante, altiva; interessaria. Mas não consigo, por mais que eu finja ser o que nao sou, por mais que engane a todos, há sempre uma parte de mim que se recusa a ser maquiada. E por causa dela que as duas frases que mais ouço são você só faz sorrir e você sorri tão pouco.
Por acaso isso faz sentido de alguma maneira a alguém? Eu ainda poderia me extender por horas, mas sei que por mais que eu explicasse não faria sentido a qualquer pessoa que não fosse eu. E pra que eu faço isso? Ora, não se tem sempre razão.