Reformas

Existem reformas de todos os tipos. Reforma interior, reforma espiritual, reforma amorosa, reforma corporal e a reforma do lar. Aqui me atenho a respeito da reforma construtiva, daquela que consiste em adquirir tintas, lixas, pregos e afins. Ah! E contratar um pedreiro também.

Contratar um pedreiro é a melhor parte da reforma. É um excelente termômetro para medir se a relação custo-benefício realmente vai ser positiva. O primeiro contato é amistosíssimo, recheado de palavras amigáveis e singelas, e o que é melhor: Ele tem tempo para fazer a obra!

-Sério?

-Sim, posso começar amanhã mesmo “seu” Juvenal.

-E quanto ao pagamento?

-Não se preocupe com o pagamento, eu vou fazendo...

-Mas que beleza! Pode começar amanhã então!

E o “seu” Juvenal sai felicíssimo pensando que seu banheiro estará pronto em uma semana.

As reformas, além do dinheiro, requerem dureza de caráter, brio, coragem e o mais importante: ser psicologicamente equilibrado! Antes de executar a reforma seria conveniente fazer uma terapia com um médico psiquiatra.

-Aderbal? Você não disse que ia começar ontem?

-Sabe o que é Juvenal? Eu estou com uns problemas financeiros, e ontem tive que ir ao mercado pegar o cheque que voltou do rancho.

-Mas ir ao mercado não leva o dia inteiro.

-Você podia me adiantar uma parte da reforma? Só para poder recolher o cheque do rancho?

-Claro que sim! Passe aqui pegar, e depois comece a reforma.

Durante uma reforma, procure não ficar nervoso. Seja cordato e disponível. Libere sua linha de celular para receber chamadas a cobrar em qualquer momento. Nesse ínterim aconselho a comprar um caderninho de anotações para que a desculpa do pedreiro não ir trabalhar não se repita dali a um mês. E vai ser muito bom você estar preparado.

-Juvenal? Venceu a terceira prestação da moto, e eles vão me tomar ela se eu não pagar. Pode me dar uns cento e cinqüenta?

-Mas Aderbal, você só apareceu lá em casa para tirar medidas que nem sei por que, já que vai trocar somente o piso.

-Eu tenho uns cálculos para fazer.

As reformas que poderiam durar quinze dias -se o pedreiro fosse trabalhar- duram em média 6 meses. É o mesmo que você contratar um funcionário só para dizer que tem um, mas que ninguém vê. Quando o pedreiro finalmente resolve fazer o serviço você deve tratá-lo muito bem, já que ele tem outro serviço em outro lugar (que pegou depois de acertar com você), mas acaba insinuando que já tinha aquele contratado, e essa reforma, é um favor que ele está te fazendo. Então faça um churrasco para amenizar os ânimos.

-Aderbal, termine a obra, por favor! Eu não agüento mais!

-Nem eu Juvenal, nem eu. O problema foi que furou um cano e agora eu tenho que quebrar aquela parede da lavanderia para achar onde está o furo.

-Mas Aderbal, era só para trocar o piso. SÓ O PISO.

Michele CM
Enviado por Michele CM em 21/07/2009
Código do texto: T1711507
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