Por força do hábito
Num dia extremamente rotineiro, acordo cedo como de costume e ponho a roupa de caminhar. Saio. Atravesso a BR pela Passarela de Neópolis. O tráfego já é intenso e o barulho, infernal. Caminho até a Avenida da Integração. E hoje resolvi mudar o percurso e vou direto pela Jaguarari, ao invés de pegar a Prudente. Péssima idéia!
Lá, nesse horário, é muito silencioso. Dá um pouco de medo. Medo do que vejo: garotos fumando maconha entocados pelos becos; pessoas no mais completo abandono dormindo ao relento. E medo do que não vejo, mas imagino haver ali. Um lugar que me reporta à infância. Ao imaginário infantil, ao tenebroso dos contos que não eram exatamente de fadas, onde tudo parecia sinistro e de dimensões enormes .
Uma hora de caminhada. E mais uma hora pra voltar pra casa. Agora não há mais silêncio. Só o barulho ininterrupto dos carros que passam raspando em mim. E são tantos! Fico imaginando quem são essas pessoinhas dentro de tantos veículos, para onde elas vão e fazer o que , tão apressadas.
Já em casa, prossegue a rotina. Fazer o almoço. Ler. Tomar umas canecas de chá verde, comer barrinhas de cereal e as providenciais claras de ovo, minha fonte de proteínas preferida.
Depois do almoço regado a vinho oriundo das vinícolas patoenses, envelhecido em tonéis de plástico na geladeira, uma hora pra dormir e recuperar energias.
Hora da musculação. E eu aqui escrevendo besteira e enfezando o coitado do computador.
Mastigo as intragáveis pastilhas de suplemento alimentar e saio. O que queria mesmo agora era ligar o som alto e dançar sem roupa pela casa e depois retomar a leitura de "A Montanha Mágica", há muito abandonada.
Não dá. Garrafinha de água do lado, vou encher as mãos de calos e de ferrugem do ferro velho da Academia Líder, ali na BR. E suar ao som enfadonho das bandas de Forró de Fortaleza e do lenga-lenga do papo-cabeça de camarão de alguns frequentadores do local
Putz. Vício é vício.