PORTAS E JANELAS

Hoje abri portas e janelas apesar do frio. Mantive-as fechadas por tanto tempo. Escondi-me entre essas paredes brancas e nem quis olhar o mundo lá fora. Tive medo. Tive inseguranças. Sou tola certamente. Por isso não vivi. Ou será que vivi? Por isso agora tenho essa sensação de solidão. Abandono. Desconheço todas as formas de viver. A minha é que não é correta e trás a certeza de que o tempo passou e não se refaz o tempo perdido, as coisas perdidas, o que não se viveu. Tudo por causa dessas portas e janelas trancadas.

Lá fora o branco frio do inverno a quase bater à minha porta. Eu o senti acariciando meu rosto de semblante triste. Não o abracei. Tive medo de sua gélida carícia. De gélido já bastam esses dias que me trancafiei para não sentir a vida. Mas senti que lá fora essa vida corria solta. A vida das estações que me rondam, embora eu ainda me encontre no outono.

Porque falo tanto do outono e do inverno? Algum dia descobri que eles têm uma relação quase doentia comigo. Seguem-me. Transformam minha vida em contos e crônicas. E eu indefesa deixo-me levar nas suas letras cheias de balés. Nas suas letras pálidas...

Alguma vez já escancarei portas e janelas assim como hoje? Talvez as letras tenham me dado essa liberdade, além do meu recanto de solidão. Hoje eu pude ver que tudo tem cor. Só eu não enxergava na minha percepção de prisioneira de mim mesma.

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 07/06/2006
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