Pássaros na cabeça
Do mesmo jeito que a inspiração teima em aparecer quando quer e voa quando nós queremos que apareça, os pensamentos são também como os pássaros.
Há alguns anos a dupla espanhola “Amaral” lançou um CD que eu gosto muito, chamado Pájaros en la cabeza (Pássaros na cabeça). Com esta expressão, eles se referem a um distraído ou sonhador. Mas para mim é justamente o contrário: uma pessoa atenta a várias coisas ao mesmo tempo.
Os pensamentos invadem a minha cabeça exatamente como os passarinhos e disputam entre si para ver quem vai sobrevoar mais. Antigos, novos, claros, distorcidos, bobos, estranhos – vários tipos de pensamentos me assolam sempre.
Grandes falcões, pequenas andorinhas, charmosos beija-flores, ágeis águias, pombas pacíficas, alegres canarinhos, sabiás, periquitos, falantes papagaios, revoadas de pardais e a linda (e na moda) calopsita... Todos eles sobrevoam, festejam, fazem a maior algazarra.
Como bem sabemos, Descartes disse: “Penso, logo existo.” O que diria então de quem pensa tanto assim como eu?!
Leonardo da Vinci nos tranquiliza: “Quem pensa pouco erra muito.”
Desses tantos pensamentos tiro muitas conclusões. Importantes reflexões.
Mas que é um tormento ter a minha cabeça tão povoada por essa disputa de pensamentos, isso é... Penso várias coisas ao mesmo tempo. Ou então, penso uma coisa e logo já penso outra bem diferente. Pensar cansa...
Pensamentos são iguaizinhos aos pássaros. Uns pousam e se vão. Outros deixam seus vestígios, fazem ninho. Alguns ficam mais, outros apenas passam. Alegram, bicam, deixam pena.
Uma pessoa muito querida, ao ver minha cara de quem tem passarinho na cabeça, enviou-me um torpedo dizendo: “Espero que alguns pássaros da sua mente voem e deixem tudo mais tranquilo aí dentro.”
Sim, as pessoas queridas têm o poder de espantar os pássaros mais agitados da nossa cabeça e deixar só aqueles que tranquilizam o nosso coração.
(Catalão, 20/07/2009)