A MINHA RUA
 
 
          Voltei assobiando TIM MAIA “Me Dê Motivo” só a melodia, que saudade... vzz... vpzz... Dê motivo pra ir embora. Estou vendo a hora de te perder,me dê motivo, mas chega a hora, de te perder... Me dê a hora, mas chega a hora... Estar indo embora...
Não faz sentido
Ficar contigo
Melhor é nessa hora, que o homem chora, a dor é forte...
Não tem mais jeito
... perfeito...
 Só assoviando a melodia e saudade dele, aquele humor, aquela simpatia e alegria!
 Apreciando a rua, rua antiga, tranqüila, mão única, sobradões, asfalto corroído, brilhando do molhado da chuvinha, andando pelo meio da rua. Dos dois lados os oitis altos e algumas amendoeiras com folhas vermelhas pelo chão embelezando a pobreza local.
 Minha coluna doía com o peso da bolsa e da sombrinha. Mas precisava pasta de dente e pães, e correio. Tinha que vencer a inércia de sair. Quase não consegui chegar ao correio, mas lá tinha um banco novo de espera, e foi um bálsamo pra eu sentar..
      Depois, as compras, e voltei com muito peso. Entrei num café na Rua da Lapa: entro em qualquer lugar no maior à vontade, seja rico, ou seja, pobre, bem freqüentado ou não. O que me leva é o objetivo do café e a alegria de falar com pessoas de verdade, desculpe, não virtuais. Sentei no banquinho, fiquei olhando as bisnagas ou bexigas de queijo provolone e mortadelas penduradas, decorando o ambiente. Fez-me bem ver aquele provolone não aberto ainda...        Reticências são diferentes de pontos, elas querem dizer muita coisa.
      Quando fiz minha cozinha de recém-casada, foi a cozinha mais linda: azulejos brancos desenhados com violetas azuis, um a um em uma cerâmica de Petrópolis, o maior capricho, lindo, armários de madeira encerada, piso branco e um lavatório com espelho de moldura em cerâmica com dois anjinhos entre flores da Luiz Salvador de Itaipava, pendurado numa parede de madeira , que hoje ocupa o meu banheiro do sítio.
 E ali realizei um sonho “que quando casasse eu teria pendurado uma bexiga grande de mortadela e outras como em cozinha italiana, para a gente beliscar fora de hora um pedacinho com faca afiada, quando tivesse vontade”. Que sonho bom! Realizado.
 Eu só sabia escrever e calcular engenharia. Meu primeiro café em mesa posta teve o açucareiro cheio de sal, por puro engano. E no primeiro jantar, com toalha nova, o arroz estava temperado com açúcar: pura inocência e despreparo. Rendeu risadas e fama. Meu pai me visitava e dizia pra família em Petrópolis que “na casa da Maria Luiza a mesa é muito bem posta, mas a comida...”
 Esqueci os cálculos e aprendi o melhor café e o melhor arroz. Tudo isso por que aquele provolone pendurado me levou em viagem de lembranças.
      Voltei pra casa carregando minhas sacolas, pesadas, e não senti a coluna na volta, e vim curtindo a beleza da rua, dos oitis, do amor aos moradores, e assoviando TIM Maia, acompanhando a minha solidão tão rica.

 La, lá... Cha-cha-cha... “Me dê motivo pra ir embora... Alô, a vida é isso mesmo! Alô dizia TIM Maia”...

 Não tem mais jeito... “perfeito... “. Alô!