NA ROÇA - IV
Já tinha ouvido falar algumas vezes que todos nós temos um relógio biológico que nos avisa quando chega a hora de dormir, acordar e principalmente de comer .
Uma das boas coisas da vida, sem nenhuma dúvida, é poder comer de tudo um pouco, sem exageros, com cautela, mas com bom gosto.
Não posso me queixar da comida lá de casa mas, a comida caseira da roça é outra coisa. Provavelmente o gosto, o sabor diferenciando devem-se ao fogão à lenha ou talvez ao ar puro do campo, mas a grande verdade é que nesses dias em que fiquei naquele paraíso apetite foi o que não me faltou.
Imaginem só um café da manhã em que você pode comer frutas frescas colhidas bem no quintal da sua casa, passar geléia caseira de uva ou de goiaba nas torradas de pães assados num forno de barro .
Imaginem uma mesa de café da manhã que tenha todos os dias broa de milho, queijo minas e uma fantástica manteiga feita em casa.
Isso não deixando de citar os sucos de manga, abacate e laranja. E no almoço e jantar, bem, para meus amigos e amigas terem uma ideia, comi leitão assado, costelinha de porco, frango caipira ensopado, enormes bifes de alcatra e de fígado, além do incomparável arroz com carne seca e feijão mulatinho com farinha de milho, entre outras delicias.
Entre os legumes provei do chuchu, jiló frito, abóbora com carne seca, abobrinha verde, brócolis, agrião e uma outra folhagem roxa que me disseram que também era um outro tipo de alface. Como não sou bobo, passei muito longe da travessa de quiabo ensopado.
E as sobremesas ? Compotas de goiaba e laranja, goiabada cascão com queijo minas, doce de leite em calda e doce de mamão. Temperos e comidas incomparáveis. Inesquecíveis.
O bom de se almoçar e jantar na roça é que para abrir o apetite, que sempre faço questão de dizer que não teve nenhuma dificuldade para ficar aberto, era provar aquela pinguinha branquinha, puríssima.
Houve um dia que, para variar, fizemos caipirinha de limão e de laranja da terra. Não tem como descrever a delicia que ficou.
E os licores de uva ou de jabuticaba ? Mas como ia dizendo, o bom de se almoçar na roça é que depois de se empaturrar sempre se podia deitar numa rede e cochilar por quase duas horas.
É preciso que eu esclareça , para que não haja interpretações maldosas, que se empaturrar significa apenas repetir só uma vez cada prato servido.
Eu sempre acordava bem disposto e assim que pulava da rede corria para pegar um caniço e ia para o rio tentar pescar algum peixinho.
Sinceramente, só no último dia da minha estada foi que consegui pescar alguma coisa que fosse muito diferente de folhagens e galhos secos . Pesquei um peixinho tão minúsculo que resolvi devolve-lo ao córrego. Parecia mais um peixinho de aquário.
A verdade é que andei à cavalo, plantei algumas mudas de verduras e flores e enfiei a mão na terra sem nenhum receio.
Andei descalço, subi em árvores , peguei frutas diretamente no pé, observei o revoar da passarada, tentei entender a linguagem enrolada de um papagaio resmungão enfim, rejuvenesci uns dez anos.
Só não me preocupei em saber se engordei mais algumas graminhas. Graças Deus não tenho esse tipo de problema.
E as noites estreladas ? A beleza daquela lua prateada ? Coisa mais linda, espetáculo que só poderia ter sido concebido pelo nosso Criador, nosso Pai Maior.
Interessante que só depois de muitos e muitos anos pude ver uma quantidade incrível de vaga lumes, bandos de borboletas coloridas, pássaros que nunca imaginei que pudesse ver tão de perto e um batalhão de formigas que estavam construindo algo parecido com um castelo com uma enorme torre cônica. Quanta imaginação ! Formigas construindo um castelo com uma torre cônica !
Não quis saber de relógio, celular e até do meu querido amigo PC. Tenho pensado seriamente em terminar meus dias na roça.
É claro que não sei quanto tempo ainda tenho de vida aqui neste planeta mas, sinceramente, gostaria de ser merecedor dessa graça de poder voltar para minhas origens, minhas raízes, a roça pura , autentica e simples.
Foram poucos os dias em que consegui ficar longe da cidade grande, do barulho e da poluição dos carros, dos noticiários negativos e perturbadores dos telejornais, das fofocas horrorosas das novelas da TV e do ridículo barulho do funk.
Em compensação estive em contato com a bela e pura natureza, cochilei todos os dias numa rede, tomei caipirinha de limão e de laranja com uma pinguinha de alambique autentico, me engasguei de tanto rir dos causos que me contaram e, com certeza, recarreguei as baterias quer dizer, consegui trocar as pilhas.
Terei outras oportunidades iguais a essa ? Não sei, só Deus sabe ! Entretanto se pudesse escolher, se fosse merecedor, gostaria de acabar meus dias naquele lugar, ali sim, o verdadeiro paraíso.
O preço que teria que pagar seria, talvez, deixar para trás o celular, o relógio e quem sabe meu amigo PC, companheiro inseparável das minhas noites de insônia e maior testemunha das minhas absurdas ideias e das enormes tolices que escrevo .........
fim.
.....do meu jeito.....simples assim.....
(.....imagem google.....)