Texto para um ex-amor ao telefone.
Alexandre Menezes
Lembro que ao nos despedirmos desejei uma boa noite e pedi que desligasse e, ao ouvi-la dizer “desliga você”, apenas falei “então tá, tchau”. Como anteriormente foram tão diferentes as ligações. Muitas vezes, parecia que elas seriam para sempre e ,alegremente, passávamos minutos ao telefone dizendo “não, desliga você”. Era como se fosse a dízima periódica do diálogo.
Com os dias, as conversas ficavam cada vez mais curtas ou então apenas permanecia quase mudo respondendo apenas “sim, estou te ouvindo” enquanto ela fazia cobranças sobre minha mudança de comportamento. Nada de descaso irresponsável de quem perde o interesse, é que, sem perceber, a gente muda de plano. É comum nesses momentos desaparecer a coragem e por um tempo reina o lado covarde dentro da gente.
Começava então a pedir para dizer que não estava e, geralmente, a voz envergonhada de quem dava o recado acabava entregando sem precisar dizer a verdade. O telefone insistentemente tocava, do outro lado ninguém nada falava, ouvia a voz de quem não queria e encerrava sem nenhuma palavra. Nas vezes em que a ligação atendia, a conversa terminava rapidamente com a promessa de um retorno à ligação.
Sabia o que queria mas não sabia o como fazer. Para piorar, e por mais que eu fosse decidido, o cérebro não raciocinava e aceitava encontros em locais propícios aos carinhos e desejos que não eram os mesmos do passado. Estávamos apenas acostumados. Seguimos assim: ao telefone marcávamos conversas definitivas e decisivas que acabavam na cama e com o respeito e o carinho entre nós. Após os encontros, ficávamos cada um no seu canto chorando, se culpando e sentindo usados até que tudo teve fim.
Adolescentes, vivemos um mal necessário que julgamos ter aprendido, mas que ainda se repetiria em outros relacionamentos. É que o covarde de dentro da gente custa a morrer e, sem nenhum pedido ou vontade, ainda tem a feia mania de renascer. Com o tempo, a gente só aprende fácil o que não deve fazer e para onde não ir. O resto é mais complicado. É meio sem jeito...